24.4.05

24 de Abril de 1974, ao início da noite.....

Salgueiro Maia convoca os oficiais de serviço no Regº. de Cavalaria de Santarém, alferes e tenentes, para o anúncio da tentativa de golpe de estado preparado para essa noite, aferindo em simultâneo da disponibilidade física e mental dos mesmos, em ordem a integrarem o golpe.
Alguns dos oficiais presentes mostram-se contrários à ideia, não por convicções políticas mas pelo dever a que, estão certos, qualquer militar e a própria instituição castrense estão sujeitos, pelos juramentos de fidelidade e pela vocação militar, de defesa intransigente da nação e não ingerencia na actividade política, pelo sentimento patriótico que deve ocupar largo espaço na mente e coração de quem serve a nação pelas armas.
Levantam igualmente outra questão, conforme Salgueiro Maia vai esgrimindo argumentos: destina-se o golpe a entregar as províncias ultramarinas? Consideram esta última premissa fundamental para a sua posição, recusando que esse seja o fito do golpe planeado.
Salgueiro Maia desdobra-se em explicações referindo, em concreto, que tinha a garantia de Spínola de que tendo sucesso o golpe, só a Guiné- Bissau seria alvo de negociação de saída das tropas portuguesas, atendendo às elevadas baixas, função de um território difícil, que impossibilitava pensar-se num sucesso militar mesmo a médio prazo. Todo o restante território ultramarino era sagrado. A necessidade golpista advinha da intransigencia do sistema político em reconhecer esta verdade. Acrescentou mais: que o próprio Marcello Caetano estava ao corrente das motivações e movimentações e que Spínola encabeçava o movimento.
O regimento de Cavalaria saíu para a rua.
O resto é conhecido. Marcelo foi ingénuo, Spínola ingénuo e sem qualquer vocação política foi enganado, não ficando para a história, e os territórios ultramarinos foram entregues de forma surrealista, com militares assistindo ao queimar da Bandeira Nacional, num processo que ficou registado para a história com o surrealista nome de "Descolonização exemplar".
Salgueiro Maia era um Homem honesto. Os militares que com ele estavam também. A desonestidade, essa, estava para chegar, algures entre Agosto de 1974 e o 11 de Março de 1975. Chegou e ficou!

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