2.3.05

Sombras
São sombras. Na corrida diária da existência não esbarramos com elas, mas existem, estão sempre presentes, as sombras. No caminho da escola, do emprego, à hora do almoço e no regresso a casa lá estão elas, as sombras. Não as vemos mas sentimo-las. E nos sonhos, nos nossos medos, aparecem amíude. Existem mas não se vêem. E no dia seguinte, no outro, e ainda no outro. As sombras aparecem, dizem presente.
As sombras nascem das dúvidas, das incertezas, igualmente das certezas, também dos comportamentos e das incapacidades, todas estas em simultâneo, pessoais e colectivas.
Na incapacidade de alterar o "status quo"; na necessidade de adaptar e intuir comportamentalmente o sistema, com vista à própria existência; na certeza das vontades, das leis, normas e condutas com vista à mudança não dependerem de grupos identificados, de vontades colectivas; nas incertezas quanto ao futuro, nosso e dos nossos; nas dúvidas em relação aos caminhos a percorrer e a apontar.
E as sombras lá ficam, estáticas, corporizadas nos excluídos, nos famintos, nos sem-abrigo, nos diáriamente massacrados, nos que se encontram isolados num mundo super-povoado, naqueles que connosco se cruzam diáriamente, que nos fazem doer a alma e nos atormentam a mente, que mostram, cabalmente, a nossa incapacidade individual e colectiva de alterar o rumo. Assaltam-nos as sombras a memória, a mente e a alma. Evitamos os "sinais", afastamos os pensamentos em nome da sanidade fundamental, mas as sombras existem, estão lá, habitam no mesmo espaço e mostram-se, de tempos a tempos.

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