2.3.05

Dá-se hoje início a uma série de textos que pretendem, de uma forma simples mas concisa, transmitir a realidade das economias em dois continentes distintos: África e Ásia. O primeiro, por razões sentimentais e de aproximação linguística, fará sempre parte do núcleo restrito de interesse dos empreendedores nacionais. O segundo porque é a economia da moda, a região de que se fala e de quem se espera taxas de crescimento enormes nos próximos 15 anos.
África (1)
Questões relativas ao Continente Africano, ao nível das Agregações Regionais .

África é um complexo sistema geo-político, constituído por 53 países.
Continente de enorme dimensão geográfica, é na sua maioria constituído por países que saíram de uma estrutura colonial recente muito semelhante, com actividades económicas muito viradas para o mercado interno e extremamente incipientes.

As infra-estruturas são quase inexistentes em África, bem como as comunicações, o que aliado à dimensão do continente tem colocado problemas difíceis de solucionar.

nota: se para a teoria económica ortodoxa, a assunção dos custos de transporte nulos são base do modelo, fácil será assumir que na construção de um modelo económico para regiões desenvolvidas, casos da Europa e EUA esta assunção é fácil de assumir.
Imagine-se, no reverso da medalha, a dificuldade para a aplicação da teoria em África e para a construção dos respectivos modelos.
As grandes diferenças nas estruturas económicas dos países envolvidos cria grandes dificuldades de integração económica, pois estamos em presença de um número imenso de países subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento.

Basta comparar o desempenho e as realidades locais dos vários países para se perceber claramente como é extremamente difícil encontrar realidades mais ou menos próximas, potenciadoras de uma integração.
A tentativa de encontrar critérios de convergência é assim tarefa quase impossível.

Quando analisados os mapas de Desempenho Económico, verificamos com facilidade os contrastes existentes, a maior ou menor capacidade de criação de riqueza por parte das Nações.
Ao nivel do desempenho económico verificam-se diferenças dramáticas em relação ao PNB, PNBpc, Tx de Crescimento Anual e Tx Média Anual de Inflação, entre países desenvolvidos como o Canadá e os EUA e países africanos como a Tunísia e a África do Sul, sendo que estes dois exemplos são benignos quando considerada a realidade do todo africano.
Problema premente em África é a incapacidade de gerar poupanças, acarretando a incapacidade de gerar investimento.

Esta situação torna a capacidade de atracção de IDE como fundamental para um processo de crescimento das economias africanas.
A capacidade de atrair IDE tem a ver, directamente, com a capacidade de garantir a segurança nos territórios, bem como a existência ou não de externalidades facilmente aproveitáveis.

É contudo de pressupor que as assimetrias tenderão a aumentar, pois que as economias mais carenciadas não têm condições de garantir níveis mínimos de produtividade dos investimentos efectuados, para não falar em ineficiências, pelo que o IDE nestes países não chega para alavancar a economia.

Para o Continente Africano a segurança – e em África leia-se paz – conduz a um crescendo de confiança dos investidores, como se verifica pela análise comportamental do IDE em Países como a África do Sul e Moçambique, que apresentam crescimentos imensos, partindo de situações “nulas”.

Também as Seychelles, na 55ª posição dos países canalizadores de recursos, se apresenta como situação perfeitamente paradigmática.
Mas as ajudas são e continuarão a ser fundamentais, pois que o pouco IDE canalizado é de todo insuficiente.
Assim, ao apresentarem sérias dificuldades para canalizar investimento directo estrangeiro, ao mesmo tempo que não conseguem aceder a financiamentos externos, estes países são forçados a contar com o apoio de países terceiros, chamados “doadores”.

Desde o início da década de 90 que se tem acentuado uma grande pressão da opinião pública no sentido de uma retracção na Ajuda Pública ao Desenvolvimento ( APD ). É difícil, muitas vezes mesmo impossível pela imperceptibilidade das razões junto da opinião pública, justificar transferências de somas avultadas para países subdesenvolvidos, por parte de economias que atravessam igualmente crises económicas e onde se discutem temas quentes como o desemprego, perca do poder de compra, necessidade de aumentar as eficiências económicas.
Em % do PNB a ajuda externa para a África do Sul é de 0,5 %, para Angola é de 9,7 %, Moçambique 27,9 %, Cabo Verde 28,9 % e S. Tomé e Príncipe cerca de 150 %.

Verifica-se assim a extrema dependência da APD para Países como Angola, Moçambique, Cabo Verde e S. Tomé. A situação assume contornos mais ou menos sérios quanto à dependência total destas ajudas, consoante as economias tenham maior, menor ou quase nenhuma capacidade de crescer a médio e longo prazo, dependendo directamente da dimensão e maior ou menor disponibilidade de recursos próprios.
Os valores demonstram cabalmente a incapacidade destes países em mobilizarem poupanças. (continua)

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