1.2.05

Votar em Consciência e sem Pressões
Cresce em dimensão a ideia de que o eleitorado natural do PSD, bem como o flutuante cuja tendência se aproxima mais do PSD, assumirão uma postura de abstenção ou voto em branco nas próximas legislativas.
Se é recriminável a intenção de não votar, por contrariar totalmente o postulado da liberdade de escolha num regime democrático, ou melhor adaptado aos dias de hoje, de um estado de direito (são dois conceitos bem diferentes), já a assunção do voto branco ou nulo reflete, sem margem para qualquer dúvida, uma posição clara face ao poder político e à forma de condução de uma sociedade (entendida como conjunto de homens identificados num determinado espaço geográfico e movidos por laços de solidariedade). Assim, o voto branco (ou nulo) pode prefigurar - no meu entender é esse o sentido - um desconforto total pela solução política encontrada no sistema e uma vontade enorme de mudança. Essa mudança pode e deverá ser uma mudança de regime, uma mudança pautada por um funcionamento das instituições que rompa com o modelo anterior, uma mudança nos intervenientes políticos, uma mudança na forma e conteúdo dos sinais e ruídos que passam sistemáticamente para a sociedade civil, através dos meios de comunicação. Se os votos brancos/nulos atingirem, um dia, um patamar próximo dos partidos mais votados, estará aberta a porta para a construção de cenários que não passarão, forçosamente, pelos que conhecemos desde o 25 de Abril.

Não crendo ser esta a vontade daqueles que hoje se perfilam como potenciais votantes branco ou nulo, assumirei então, creio que com inteira razão, que este sentido de voto se destina a penalizar Pedro Santana Lopes e, muito provávelmente, um Congresso onde lhe foi conferida legitimidade enquanto líder do PPD/PSD.
Curiosamente, muitos dos argumentos vertidos no sentido do voto branco/nulo têm origem em elementos fortemente ligados ao partido e que no aludido Congresso não expressaram a sua discordância para com o líder. Curioso, igualmente, que Marques Mendes, congressista contra a corrente, seja agora dos que mais defende as cores partidárias. Sentidos do dever diversos.

A questão a colocar será a da justeza do voto branco/nulo, do objectivo pretendido e dos reflexos exarados.

Será justo penalizar Pedro Santana Lopes ?
Em meu entender, o 1º Ministro falhou uma única vez - por sentido de estado, dever para com o partido ou vaidade, ou uma mistura de todas estas razões - quando aceitou ser empossado com trela curta e sob olhar atento de um Presidente da República que está longe de ser o presidente de todos nós. Tivesse PSL recusado liminarmente assumir funções à condição e hoje teria um País dividido, sedento de umas eleições e muito provávelmente à beira de uma maioria absoluta. Não o fez. A história é conhecida. Não lhe foi dado descanso.
Na verdade PSL não teve tempo, oportunidade, apoio para governar convenientemente. Pagou com língua de palmo os clientelismos, as armadilhas que lhe foram estendidas e a imensa necessidade que, por vício de muitos anos, tem de se alcandorar às primeiras páginas das revistas, dos jornais. Ter alguma coisa para dizer, todos os dias, pode por vezes - em missão tão ingrata como governar - conduzir a discursos que, obrigado a um determinado "segredo" inerente às funções que desempenha, podem soar a ocos, falsos, incómodos, mesmo incongruentes. Na realidade PSL nada fez que mereça tanta animosidade. Não prejudicou o País em nada. Não teve tempo para isso.

Atente-se no caso "Túnel do Marquês". A providência cautelar foi levantada, as obras prosseguem. Não se discute se são corretas ou não, perigosas ou não. Foram embargadas, estiveram paradas e agora prosseguem. O custo ventilado para a paragem forçada foi de 2,5 milhões de euros. Paga o estado, o mesmo é dizer o contribuinte. Entretanto um senhor advogado, sequioso de mediatismo, víu no "Túnel" uma boa oportunidade de se mostrar. Não mais apareceu depois de levantado o embargo às obras. Mas os custos (2,5 milhões de euros) ficaram.
Ficou também a ideia de que PSL não consegue levar nada até ao fim. Nos últimos anos levou O PSD a conquistar duas Câmaras Municipais com as quais o partido só nos melhores sonhos contava.
Deve-lhe alguma coisa o partido ? Não, claro que não.
Merece o azedume que alguns elementos do partido mostram ? É claro que também não.
Percebe-se que 30 anos de convivência partidária não sejam 30 dias. Que algumas querelas existam. Que o comportamento privado de PSL, enquanto P. Ministro, devesse ser mais circunspecto. Percebe-se a azia, as recriminações. Não se percebe que se misture em tudo isto o partido que o legitimou.

E o PSD ? Que acontece se o PSD perder um peso significativo na Assembleia da República ? Se o resultado for trágico ? ( pessoalmente não acredito nesta permissa. Creio que o PSD irá ter um resultado muito superior ao que alguns estimam. Vamos mesmo ver até onde é capaz de chegar).
Perderia o País. Perderíamos todos nós. O PSD é uma força incontornável neste estado de direito. Necessária política e socialmente. Económica e financeiramente.
Qualquer posição de perseguição pessoal, por parte do partido e do seu eleitorado, poderá criar as condições para guerras intestinas, a fomentar por membros do partido que vendo a idade avançar inexorávelmente e sentindo, com ou sem razão, que o seu tempo está a acabar, se poderão lançar em demandas pessoais, dividindo e gerando a confusão.
Este seria o cenário ideal para o PS, cujo discurso se aproxima cada vez mais do eleitorado do centro e centro direita (o que quer que esta adjectivação signifique), procurando ocupar um espaço que não lhe pertence mas que percebe, que com um certo ar de "esquerda caviar" adicionado a problemas no seu principal opositor político, poderá "coleccionar".

É por isto, pela certeza de que o eleitorado PSD está ciente destes problemas, que acredito que no dia 20, na altura de colocar a cruz, esta irá para onde a razão a orienta.

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