8.2.05

Vidas Desfeitas

O sonho de uma vida sonhado,
Anos e anos seguidos,
Na angústia dos dias sofridos,
De um futuro desamparado.

Todas as ilusões e promessas,
Ainda criança, bem cedo,
Rápido se transformam em medo,
Na forma de chibatadas.

Foge de casa acossado,
O corpo e alma doridos,
Tantos sorrisos perdidos.
Foge para qualquer lado.

Dorme na rua, no jardim,
Dorme no chão, dobrado.
Come de tudo, resignado,
Teme que seja o seu fim.

Procura a amizade parida
de carinho e amor avulso.
A droga toma-lhe o pulso,
Vive no hiato da vida.

Arrasta-se na mole imensa,
Não é visto. É ignorado.
Está só! Só, derrotado,

Minado pela doença.

Acorda cedo, de madrugada.
Sobe ao banco seu aliado.
Pula no ar, fica parado,
Pescoço na corda bem amarrada.

O sonho de vida que tinha sonhado,
Anos e anos seguidos,
Termina nos dias sofridos
De um início arruínado.


(João Fernandes)

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