31.1.05

A Viagem

Livre, isento, transparente,
Reluzindo na sua infinita bondade,
O Espírito vagueia presente
Na presença do sonho que o invade

A memória viva, segreda,
Num murmúrio audível, rouco,
Que a Vida traz e leva
E Quem não aproveita é Louco

Quantos feitiços ou querelas de Merlin,
Quantos sapos e mostrengos intuídos,
Nos invadem, nos incitam num sem fim
A Cometimentos e Feitos prometidos

A procura, a luta, a destreza,
Na busca incessante de um porto de abrigo,
Balança-nos de vaga em vaga, com leveza
Da suposta segurança ao eminente perigo

Damo-nos conta que cartas já não temos,
Apontamos então a Norte,
O vento muda, a tempestade abranda,
Mas logo aumenta e de maneira que tememos
que a luta recomece.
Vem aí nova demanda

Procurámos o conhecimento, o Conhecido.
Violámos princípios em nome do perigo.
Abrandamos a marcha, recuamos no tempo,
Analisamos a alma, o sentimento

Deitamos então fora a bússola,
o compasso, o sextante,
Navegamos à bolina, ao sabor do vento.
O horizonte é o Destino distante
A Viagem uma ode ao Talento

E quando pensamos estar certos
no errante caminho,
Num mar imenso, de um azul pungente,
Sem vento, ondas ou marés
Vemos, admirados, um brilho verde, reluzente,
Uma ondulação que não engana,
uma brisa refrescante
Que indica claramente que a terra se encontra não distante

Decidimos e aportamos.....
vencido que está o quebra-mar.
O verde, que víramos, compósito de um conjunto
homogéneo e resplandecente,
Mostra-se em toda a sua força, brilhando intensamente.

Meio coberto, é certo, descortinamos animal
Belo, vibrante, vivo e lesto.
Deusa Leoa que nos mede os movimentos,
esquadrinha o espírito, testa os intentos.

Quedamo-nos! Estamos em terra que não conhecemos.

Aprazível, acolhedora, porto de abrigo por certo,
mas por ora só admiramos.
Admiramos e não nos mexemos
mas foi do nada que lá chegámos.


(João Fernandes)

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