11.5.12

Questões de números

A notícia foi avançada ontem: as exportações portuguesas atingiram um recorde histórico e, em simultâneo, as importações caíram.

Dito assim, com números à mistura, até parece coisa boa. Mas consigo imaginar, sem dificuldade, os muitos portugueses que seguiam o noticiário das oito da noite, perguntar-se porque razão a sua pobreza aumenta, bem como a dos que conhecem, se os números pretendem mostrar uma economia diferente, para melhor.
Será que existem duas economias em Portugal? Será esta a famosa economia paralela? Não e não.
Só há uma economia e, a outra, é mesmo a que foge ao Balanço Fiscal do Estado.

Os números apresentados em si mesmos nada significam, porque:

(1) Não foi feita qualquer menção à produtividade, ou por outras palavras, não sabemos se a produtividade cresceu;
(2) Não foi indicado qualquer valor para o consumo das famílias;
(3) Não se mencionaram margens de comercialização nos produtos agora exportados.

E estes eram os indicadores mais simples de fornecer.

Quer isto dizer que, perante uma economia recessiva, uma desvalorização económica clara, um desemprego crescente, o aumento acelerado da miséria e a falência sucessiva de empresas, a leitura de tais indicadores acaba por ser redundante. 
As exportações aumentam fruto da falta de poder de compra dos portugueses, não por um aumento directo da produtividade mas por necessidade de escoamento dos produtos.
Se pensarmos que o nosso principal parceiro comercial é Espanha, lê-se claramente uma baixa de preços, significando uma diminuição da margem de comercialização e, muito provavelmente, também uma diminuição quantitativa na produção (pela redução do mercado nacional não ser compensada com a procura externa). Menos receitas com menos produção significa mão-de-obra e hora/máquina excessivas. Os primeiros sofrem primeiro. 

Também por esta via o Balanço Fiscal se ressente; menos IRC, menor receita em sede de IVA e, no futuro próximo, menos IRS nos cofres do Estado.
Não nos esqueçamos que se por cá pedimos para comprar português, os outros fazem o mesmo. Por vezes pensamos que estamos sozinhos nas soluções.

As famílias portuguesas estão a consumir menos. Significa que está a aumentar a poupança? Não, só de forma residual. Porque aquilo que não se compra já faz parte do cabaz de bens essenciais e bens de consumo primários. Já não falamos de luxo, de caprichos. Falamos de necessidades claras, quer alimentares numa face, quer de índole social, de bem-estar mental e emocional na outra face.

Assim, as boas notícias escondem más notícias: economia esfrangalhada, vidas ameaçadas, toda uma sociedade afectada psicológica e mentalmente. 
Se as notícias fossem boas a história seria outra, nas restantes amostragens do comportamento económico nacional. 
Porque em economia tudo é causa e efeito.