A saída de Vitor Gaspar do Governo não é nenhuma desgraça, pelo contrário. O Ministro não tinha qualquer possibilidade, desde o primeiro dia, de levar a cabo a função que deveria desempenhar: libertação de fundos, através da redução da despesa primária, para despesa de investimento, mantendo desta forma e no mínimo a receita do Estado.
Poetugal hoje é um país profundamento dividido socialmente, sem classe média, com um desemprego total superior a 25% da população laboralmente activa e um desemprego jovem superior a 50%.
A desvalorização económica do paîs é insustentável- nos primeiros três meses deste ano situa-se num valor superior a 5% (dramático) a que acresce um défice público superior a 10% (inacreditável).
Vitor Gaspar é um teimoso, sem qualquer tipo de preparação na esfera da economia social, um demagogo dos números, um homem que assumíu uma lógica tão criticada na Segunda República, orgulhosamente só, mas com a gravidade de só pensar nele, quando na Segunda República a menção se referia a todo um povo. Vitor Gaspar trabalhava para ele contra todos os portugueses e, agora, regressa ao conforto do seu gabinete no FMI ou outra qualquer instituição, muito bem remunerado, sem qualquer ponta de referênciampara o caos, desgraça e miséria em que deixa o nosso Portugal e as nossas boas gents.
Sai agora; sai TARDE.
Quem quer que venha não vem por bem, porque não há coragem para fazer o que é obrigatório fazer: SAÍDA DO EURO e da UE e reformulação da política económica nacional, fundamentada numa política monetária essencial para o crescimento.
A dívida nacional não é para pagar, porque é impossível pagar uma dívida, que no conjunto das dívidas pública e privada, ultrapassa os 400% do PIB.
A seguir à Segunda Grande Guerra, a dívida alemã foi perdoada em parte e reestruturada no restante..
A dívida inglesa nunca foi perdoada. Ps ingleses ainda goke vivem com esse enorme sacrifício, enquanto os alemães já saíram da reunificação e dos seus enormíssimos custos.
Números rápidos:
(1) O desemprego, em Maio, caíu para 5,3% na Alemanha e para 4,7% na Austria;
(2) O desemprego em Abril em Espanha era de 26,9% e na Grécia de 26,8% (embora medidos em tempos diferentes)
(3) na euorzone o desemprego jovem médio é de 23,8%. Em Espanha o valor é de 56,5% e na Grécia de 59,2%. Por contraste, nos EUA a mesma taxa é de 16,3%
(4) O custo social destes números é imparável, pelo custo adicional da negação de trabalho e, obrigatoriamente, da sua capacidade financeira futura e, acima de tudo, a negação do ganho de experiência e especialização fundamentais em qualquer economia.
(5) A incapacidade de estimular o crescimento, tornou-se na maior das dores de cabeça da Europa no seu todo e de Portugal particularmente, em tudo semelhante à velha questão do ovo e da galinha.
(6) Em Portugal, como na maioria dos países desta UE, existe um mercado laboral dualista; dum lado com postos de trabalho garantidos por sindicatos e doutro com uma enorme precariedade no trabalho.
(7) Por último, referenciar que há, actualmente, quase vinte milhōes de desempregados na UE, tendo a Itália contribuído fortemente nos últimos dois meses.
(8) 27% das crianças na UE vive na pobreza ou no limiar da pobreza.
Perante a dimensão da catástrofe nada pode ser dito ou escrito que defenda o modelo europeu.
Perante a miséria que se vive no nosso país, nada nem ninguém tem o direito de defender as políticas e os governantes que contribuem para toda a miséria que nos rodeia.
Vitor Gaspar sai mas sai tarde, ou melhor, nunca deveria ter entrado.
palavras interditas
a conspiração das ideias
1.7.13
29.6.13
What a Hell
Curiosidade, apenas: 10,6% equivalem a 4,122 mil milhões de euros. Sem Banif é só subtrair.
Gosto mais dos números que das percentagens. Números só do primeiro trimestre; há que considerar que estes são exponenciais e não progressivos. Depois acresce a necessidade de financiamento constante, bem como a enorme vontade de especular no default nacional. Do que eu gosto mesmo, afinal, é de uma boa caldeirada, bem condimentada. Ah, e a desvalorização económica de 5,8%.? Esta também conta e também soma ( e menos com menos não dá mais)
27.6.13
A Europa sem jeito
Na Zona Euro carrega-se no "botão" bail-in como se fosse um botão start num qualquer automóvel de nova geração.
O botão bail-in não arranca com nada, simplesmente pára o que possa estar em andamento; não é um start, é um stop.
Depois de pagos os impostos, toda a liquidez é propriedade da empresa ou do particular e pode ser movida, dentro e fora do sistema bancário da zona euro. No caso será fora da zona euro. Se a massa monetária em circulação já é me os que a necessária, imagine-se nos próximos tempos, uma Europa a 27, onde mais de 25% das crianças vive na miséria ou já muito perto dela.
Imagine-se, então, o futuro desta Europa, sem dinheiro agora, com a próxima geração hipotecada (a estes 25% teremos de acrescentar mais 25% mínimo de "incapazes") e as próximas em risco.
Cada vez mais esta Europa é, necessariamente, matéria de reflexão. Interessa ou não?
Afirmo que não, sem dúvidas. E assim que a Inglaterra "saltar" fora o período de tomada de decisão activa terminou.
11.5.13
A Realidade Nacional
Muito poderia escrever sobre a realidade nacional e a confiança que a actual política (?) económica transmite ao exterior, porque internamente sabemos bem o custo e o drama que lhe estão associados.
Opto, contudo, por aproveitar as declaraçōes de dois intervenientes políticos, ambos do PSD, utilizando a sua própria retórica, ao mesmo tempo que transcrevo parte de um email por mim recebido no início desta semana, que estou certo ilustra totalmente a realidade a que aludi no início do post.
Opto, contudo, por aproveitar as declaraçōes de dois intervenientes políticos, ambos do PSD, utilizando a sua própria retórica, ao mesmo tempo que transcrevo parte de um email por mim recebido no início desta semana, que estou certo ilustra totalmente a realidade a que aludi no início do post.
"Quero em nome do PSD lamentar estas declarações e esperar que o Dr. Abreu Amorim tenha condições para explicar qual era a intenção, na medida em que essas declarações são, do ponto de vista dos princípios, inaceitáveis, do ponto de vista estratégico, incorrectas e, do ponto de vista eleitoral, ineficientes", salientou Jorge Moreira da Silva ( Vice-Presidente do PSD). Continuou :
"Por outro lado, as palavras de Abreu Amorim podem criar a ideia à população que a responsabilidade orçamental terminará com o memorando de entendimento [....] Portugal é um país que ganha 100, gasta 106 e deve 120. [....] O caminho é continuar a ter contas equilibradas durante muitos anos, para lá do memorando de entendimento da troika".
Afirmação de Abreu Amorim:
"Vítor Gaspar restabeleceu a confiança dos mercados e teve sucesso nas suas políticas de voltar a inserir Portugal nos mercados financeiros mas, neste momento, eu julgo que o país precisa de uma nova etapa neste combate tremendo à crise económica financeira e social em que estamos e que o tempo político de Vítor Gaspar terminou. [....] É preciso pedir o regresso da política, é preciso que os problemas sejam tratados através de uma percepção dos anseios e necessidades das pessoas e isso é muito mais vasto do que a visão tecnocrática afunilada com que muitos dos problemas do país têm vindo a ser tratados até agora".
Agora, a reprodução parcial do email que recebi, a propósito de uma possível montagem de uma operação financeira, sobre a qual não se falou em valores e que pretendia trocar um non-rated asset, por um conjunto de aplicaçōes cotadas, com várias plataformas de risco.
Dear João,
Thank you for your message. We have as a result over the last few days thrown a few leads to ascertain potential investors' interest in such a Lisbon opportunity, but the appetite at this time for such operation in these geographies is literally nil.
Creio ficar tudo dito sobre princípios e estratégia nacionais, que são essas que interessam, ou estarei enganado?
25.3.13
Estratégias......
O sistema bancário vive da confiança; esta foi traída no Chipre.
Contudo, nada pode alterar a necessidade de viver com o sistema bancário e de depósitos. Estes serão sempre um instrumento indispensável. Cabe então escolher qual o país que oferece maior segurança nos depósitos, a par da necessária estabilidade económica.
No Sul da Europa não está. No Centro europeu também não, excepto na Alemanha.
Desta forma, restam duas alternativas: Alemanha e Inglaterra.
A captação de depósitos em euros, por parte do sistema financeiro alemão, está em marcha.
Também a Inglaterra irá beneficiar desta falta de confiança gerada, propositadamente, no Chipre. Mas com a saída anunciada da Inglaterra da UE, a Alemanha tinha de jogar a sua carta agora.
Em simultâneo está a repatriar as suas reservas de ouro, sem excepção.
Entretanto, a Grécia está no limiar de uma convulsão social, que se adivinha sangrenta.
A caixa de Pandora está aberta. Resta aguardar.
Contudo, nada pode alterar a necessidade de viver com o sistema bancário e de depósitos. Estes serão sempre um instrumento indispensável. Cabe então escolher qual o país que oferece maior segurança nos depósitos, a par da necessária estabilidade económica.
No Sul da Europa não está. No Centro europeu também não, excepto na Alemanha.
Desta forma, restam duas alternativas: Alemanha e Inglaterra.
A captação de depósitos em euros, por parte do sistema financeiro alemão, está em marcha.
Também a Inglaterra irá beneficiar desta falta de confiança gerada, propositadamente, no Chipre. Mas com a saída anunciada da Inglaterra da UE, a Alemanha tinha de jogar a sua carta agora.
Em simultâneo está a repatriar as suas reservas de ouro, sem excepção.
Entretanto, a Grécia está no limiar de uma convulsão social, que se adivinha sangrenta.
A caixa de Pandora está aberta. Resta aguardar.
5.3.13
O Óbvio.....
Quando alguém ocupando um alto cargo na hierarquia alemã, admite a necessidade de desvalorizar em 30% a economia portuguesa, e acrescenta a possibilidade de Portugal poder ter de abandonar o euro ( tal como a Grécia, igualmente referida), creio estar tudo dito.
É preferível uma saída do euro e uma desvalorização da moeda em 35% , que a desvalorização da economia em 30%, mantendo a moeda euro ( que nem sequer é o mesmo euro que os outros euros).
Já o escrevi várias vezes: ou saímos enquanto ainda estamos a tempo, ou somos empurrados, depois de completamente sangrados.
É preferível uma saída do euro e uma desvalorização da moeda em 35% , que a desvalorização da economia em 30%, mantendo a moeda euro ( que nem sequer é o mesmo euro que os outros euros).
Já o escrevi várias vezes: ou saímos enquanto ainda estamos a tempo, ou somos empurrados, depois de completamente sangrados.
23.2.13
Portugal - Manifesto para a Mudança
Citando os “Maias”, obra sublime de Eça de Queiroz:
” - Falhámos a vida, menino!”.
Ega, no regresso de Carlos, de Paris.
Hoje, quando nos voltamos para os nossos filhos e amigos confrontados com a escassez de oportunidades na vida, com um dificílimo reconhecimento social, saídos de universidades portuguesas mal cotadas no “ranking europeu” resultado da Convenção de Bolonha e forçados a aprender espanhol se quiserem consultar um médico dizemos, tal como Ega:
”- Falhámos Portugal, meninos! Falhámos a nossa vida e, mais grave, a vossa!”
Esta é a montra deste livro, da incompetência política, do compadrio, da ausência de valores, do vale tudo em que se transformou esta Nação, a nossa Pátria. E a Pátria não se discute.
Ainda Eça:
"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. (...) "
As preocupações crescentes de perca de soberania económica, mais não são que a consequência directa de uma política feita, nos últimos trinta e sete anos, mais no respeito do internacionalmente correcto e, nos últimos vinte e cinco, de uma obediência cega a Bruxelas, acompanhada por uma classe política impreparada e pouco ou nada dotada para o exercício de cargos e funções públicas, ocupados que estes são, sistematicamente, por actores políticos que encontram nas suas nomeações sentidos claros de prémios político-partidários e muito menos de reconhecimento de reais competências, para os respectivos desempenhos.
Aliás a constatação surge-nos, clara, quando verificamos os cortes nos vencimentos e regalias estabelecidos, bem como nos anos de mandatos possíveis de efectuar.
Caso o exercício político fosse consagrado como sério e competente, sendo estas premissas fundamentais aquando das nomeações para cargos políticos, estes, os políticos, deveriam ver as suas remunerações crescer à imagem do crescimento económico e social do País, como forma de chamar os mais capazes para a causa pública e premiar os mais competentes. Igualmente, através do voto, as populações saberiam distinguir entre a competência e a inacção políticas e determinariam, sem constrangimentos e em consciência, os seus representantes autárquicos, quer sejam eles nacionais quer sejam locais.
Não é esta a realidade.
Em Portugal vota-se em partidos e não em pessoas, e os partidos premeiam não os melhores mas todos aqueles que em nome de uma disciplina partidária, se sujeitam a todas as situações, se adaptam a todas as circunstâncias. É premiado o seguidismo, as "entourages" e não o livre pensamento e discernimento, sendo mesmo proibido inovar e propor caminhos alternativos.
A política é redonda, os discursos são redondos, as responsabilidades são nulas.
O sistema protege a mediocridade.
Haverá verdadeira liberdade num País colonizado no séc. XXI através do pior instrumento colonizador inventado pelo homem, o económico, onde são crescentes os sacrifícios pedidos à população e onde já não cabem razões tantas vezes invocadas de aumento da qualidade de vida, dos serviços primários, da saúde e da educação ou, pelo contrário, será essa liberdade maior num País onde o seu povo sofrendo carências menores e de menor risco nacional pode, contudo, de pleno direito e de sua livre vontade conspirar contra o regime político que o governa?
O homem é um animal conspirador e eu afirmo, convictamente, que prefiro a segunda à primeira.
Existem razões para considerar que é redundante a crítica política no nosso país.
A grande questão não reside na crítica política e económica constante, protagonizada à vez pela oposição, aos governos PSD e PS que se sucedem. A grande questão, a enorme questão reside no facto de uns e outros não terem soluções para os problemas económicos e sociais do País, porque o País, de tão mal orientado nas últimas décadas, não apresenta saídas possíveis.
As economias, todas elas, necessitam de gozar de proteccionismos de peso maior ou menor, consoante a sua pujança económica, a inserção geográfica, o grau de desenvolvimento e o momento temporal considerado. Se assim não fosse não haveria razão para preocupações com os têxteis chineses nem teria havido motivos válidos para a última cimeira entre China e União Europeia nesta matéria.
Se o princípio é válido para regiões geográficas económicas diferentes, terá de se encarar como igualmente válido para países com geografias económicas diferentes, mesmo que façam parte o mesmo continente. Assim, este princípio é válido para o conjunto de países inseridos no Continente Europeu.
A economia portuguesa não sofre das mesmas idiossincrasias nem apresenta os mesmos atributos que a economia francesa, como esta não se assemelha à economia alemã, nem esta à inglesa.
Tratar todos por igual só pode conduzir ao acentuar das diferenças, ao aumento das desigualdades, favorecendo os mais fortes e enfraquecendo, progressivamente, a capacidade de resposta dos mais fracos.
A linha férrea é sempre a mesma, na perspectiva económica, não sendo possíveis as ultrapassagens, mas tão-somente a aproximação e possível colagem, quando falamos de regiões geográficas da dimensão europeia e pretendemos impor regras económicas iguais, a todos os países que compõem essa região. Perante as mesmas regaras e obrigações, Portugal nunca almejará atingir os valores de rendimento da Alemanha, da Suécia ou mesmo do Luxemburgo, porque parte com armas mais pequenas para uma batalha que lhe exige o mesmo tipo de comportamentos: só com “crimes de guerra”, na óptica dos todo poderosos países europeus, é possível a um país como o nosso atingir rendimentos superiores, mesmo que o objectivo não passe senão da média europeia.
Portugal tem enfraquecido progressivamente ao longo dos anos, com pouco para oferecer se exceptuarmos a demagogia.
O problema é estrutural pelo que, hoje por hoje, é igual ser o PS ou o PSD a governar: são igualmente impotentes para travar o descalabro do rendimento nacional e, em economia, não existe um D. Sebastião.
Toda a propaganda que inunda as nossas maiores cidades na procura de votos é, na sua maioria, patética. Os slogans repetem-se ao ritmo das promessas vetustas, todas bem acompanhadas por sinais claros de ausência de qualquer planificação nacional, numa ilustração cabal da ausência de respeito para com a população portuguesa.
A falta de respeito marca fortemente a actuação política - onde todos somos tratados como indigentes mentais - quer falemos do governo central quer falemos das Câmaras Municipais.
Os raros exemplos de cuidado urbanístico e respeito pelas populações e cidadania, surgem nalgumas localidades no Alentejo, no Minho e em Castelo Branco. Todo o restante País é o espelho desgraçado da bandalheira política a que, forçados, nos temos habituado a suportar nos últimos trinta e sete anos.
Longe vão os tempos da discussão política acesa, dos disparates da acção política mas igualmente da crença depositada na 3ª república. Hoje os políticos estão desacreditados, a discussão política é insípida e vazia de conteúdo, feita de aproveitamentos de circunstância nos temas escolhidos, muito dirigida para a árvore e longe da capacidade de visão do global. E quando esta é abordada, inundam-nos de lugares comuns e de muitas asneiras.
Hoje não se acredita no sistema nem se acredita nas pessoas, porque o sistema, cá como lá fora, não responde às necessidades das populações e os políticos estão todos presos por rabos de palha, tão grande tem sido a promiscuidade quer interpartidária, quer intrapartidária. O exercício do poder consagra-se, fundamentalmente, pela ausência de acção política.
A lógica (?) que impera é a da classificação da pouca-vergonha, ao estilo dos concursos de beleza; o importante é a comparação. Se alguém sabe de outrem, sendo que a única diferença é o conhecimento ou não público do facto, avança na lógica(?) do mal igual ou menor.
Todos ou quase, porque de excepções ainda vive o mundo, têm o rabo preso e todos eles são de mais para este desgraçado País, como facilmente se constata pelo estado calamitoso a que a economia, a saúde, a educação, a justiça, o amparo social e a política chegaram.
Em última instância, o que foi escrito equivale a afirmar, em definitivo, que o sistema está fortemente viciado, empobrecido e carente de qualidade.
Os tempos são, então, forçosamente de mudança.
"Happiness would arrive one day and to hasten its arrival I did everything that a good Portuguese and a constitutionalist could do: I prayed every night to Our Lady of Sorrows and bought lottery tickets, the cheapest available."
Eça de Queiroz”. (Eça de Queiroz, “The Mandarin”, 1880).
A miséria em Portugal passa os limites do sustentável, e já não só ao nível social, mas sobretudo ao nível moral. Ser rico, falar como rico, comportar-se como rico e assumir postura de rico é exercício fácil. Ser pobre, viver com as dificuldades de uma existência programada ao cêntimo e, ainda assim distribuir, é que é um exercício difícil. Na faixa, cada vez mais larga, de população afectada pela miséria extrema, ainda é a solidariedade pessoal que vai minorando o sofrimento de todos, muitas das vezes feita através da redução de um já parco sustento, para dar a quem nada tem. Para estes, qualquer coisa é muito. E a miséria é, ela própria envergonhada. E as instituições jogam com esta vergonha.
Todas as classes profissionais fazem ouvir a sua voz, se manifestam e gritam desigualdades. Os pobres não se ouvem, são uma enorme maioria silenciosa, circunscrita a um canto da sua própria existência, sofrendo na alma a agrura da indigência, e perguntando-se, com inteira razão: porquê!?!
A resposta é difícil de articular, porque é muito complexa.
É possível, mas difícil, repito.
Mais ainda quando as investigações sobre corrupção, branqueamento de capitais e fuga ao fisco chegam a algumas das cabeças pensantes do país político nas últimas décadas.
Felizmente não todas, mas as suficientes para nos preocupar e nos fazer meditar sobre as reais preocupações que têm presidido ao quotidiano nacional nas últimas três décadas.
A questão já não é só política. A questão deixa mesmo de se revestir de carácter político.
A questão é mais profunda. O problema é nacional.
A dúvida instala-se na mente: a politica nacional está repleta de medíocres (não todos felizmente, que há gente aproveitável), não porque os aparelhos partidários sejam máquinas de produzir imbecis, mas porque estes procuram os aparelhos partidários para aí se acoitarem, incapazes que são de se integrarem num contexto externo à política, muito mais sofisticado e – neste caso específico, sofisticação significa complexidade e não desconhecimento como geralmente acontece – muito mais exigente.
São mesmo empurrados para a política por agentes externos, servindo de peões de movimentações muito mais intrincadas, mix de interesses particulares fulanizados e interesses nacionais malbaratados.
Os pobres são-no cada vez mais, em número e circunstância.
Os ricos são cada vez mais ricos. O País, eivado de dificuldades, ferido de morte no crescimento económico, víu florescer ricos, enquanto se afundava na pobreza.
A responsabilidade partidária, enquanto conjunção de pensamento e acção política, reside na vaidade do homem político, na incapacidade que este tem de se despojar do estatuto, de assumir riscos, de romper com o passado.
Que este homus politicus fosse capaz de deixar as convicções políticas que perfilhou (os políticos sérios e não os de pacotilha), ultrapassadas entretanto pelos acontecimentos económicos mundiais, congregando-se numa força inteligente de homens bons e de bons costumes, adaptada e flexível aos novos tempos e desafios e, uma vez abandonada a militância político/partidária actual (envergonhada nos mais capazes), se centrassem num pensamento: Portugal; acima de tudo Portugal.
Que se questionem: porque razão alguns terão direito a assistência médica cuidada e acesso à educação e outros, tantos, mas tantos, nem acesso a uma sopa têm, se não a esmolarem.
Não falem em exclusão social, não falem em pensões e reformas mínimas, se o discurso e vontade política por aí se ficar. Há que tratar de todas estas situações de verdadeira injustiça, mas acima de tudo há que assumir o estatuto de Homem, livre, pensador mas, acima de tudo e todos, empreendedor, construtor e edificador de linhas rectas, capaz de afastar o bruto e se centrar na sabedoria, contribuindo, não já neste tempo certamente, para uma verdadeira distribuição equitativa da riqueza, tempo em que o homem mostrará respeito por si próprio e pelos demais.
Que esses homens e mulheres se desliguem de aparelhos partidários, nos quais não se reconhecem mais. Que esses homens e mulheres capazes se juntem, em harmonia, num sentido profundamente nacional, para em definitivo se empurrar Portugal, fazendo-o sair do limbo onde se encontra.
Que emprestem toda a sua capacidade, inteligência e mediatismo que o País lhes concedeu, a esse mesmo País. Que paguem esse tributo.
Que segreguem politicamente quem sabem não servir, não prestar para Portugal e, com todos os outros Homens de bem, construam um outro Portugal.
A factura do 25 de Abril é demasiado elevada e a população não tem como cobrir o valor.
A ruptura no sistema é inevitável. Mesmo decorrendo de forma parcimoniosa, suave, gradativa e tantas vezes quase imperceptível. Porque as revoluções podem vir a assumir contornos radicais sem que tenham brotado de processos revolucionários, no sentido dado por Kant.
Constituindo-se a política numa esfera de influência inteligível ao nível da moral é, por obrigação mais do que por definição, uma relação entre governantes e governados, entre quem tem a obrigação de dirigir e quem tem de se submeter às decisões.
É claro que num regime político democrático esta relação tacitamente aceite se baseia em princípios antigos, do bom e do mau governo (da boa ou da má moeda), da conquista do poder e da forma como ele é exercido, da separação entre o poder político e o poder judicial, de quais os poderes que lhes são atribuídos, como se distinguem e interagem, como surgem as leis e como se procede no sentido do seu cabal cumprimento.
Do indivíduo singular não se ouve falar em direitos, senão circunstancialmente, mas acima de tudo de deveres – obediência às leis, transparência fiscal, comportamento cívico e moral.
Esta será a leitura do ângulo dos governantes, mas é possível fazer idêntica leitura do ângulo dos governados.
Quando deixamos de considerar estes como um grupo coeso, de princípios morais comuns, regidos pela face dos deveres, e os consideramos como o somatório de vontades individuais, olhados à face dos direitos, percebemos que estamos a falar da mesma moeda, mas também de uma inflexão no registo político aceite, de uma revolução radical nas ideias, dogmas e preceitos comummente aceites.
Quando, individualmente, cada cidadão dá como bom o princípio de que em termos políticos já não existem diferenças; quando a análise a candidaturas políticas individuais é feita com total indiferença pelas personalidades em confronto, na convicção de que são todas iguais; quando esta indiferença nasce da certeza que o poder da mudança não reside nas vontades políticas partidária ou pessoais; quando, finalmente, nos damos conta de que esta interiorização individual da potência política é o sentimento generalizado do colectivo, assistimos, em definitivo, a uma mudança na face da moeda, a uma concepção lockiana onde os direitos naturais são a resultante de uma concepção individualista da sociedade, da essência do Estado e que este é e representa o colectivo.
E representa bem ou mal, com a diferença de que o colectivo, somatório das percepções individuais, agora se dá conta e exige explicações para a boa ou má governação.
Se os políticos, individualmente considerados, não conseguem transmitir qualquer sentido ou objectivo político à acção governativa, eles próprios, não intencionalmente, subscrevem a tese de que a política nada tem a acrescentar no formato actual e que, enquanto cidadãos individualizados, se debatem com o mesmo problema e dilema dos demais indivíduos – como aceitar (ou impor) tantos deveres, sem sentir (garantir) a existência de direitos.
O Sistema mostra-se então gasto.
"Posso finalmente sair de Portugal (pelo menos tenho passaporte), e bastou essa certeza para me tirar toda a fúria de deixar isto."
Miguel Torga, 27 de Junho de 1950, a propósito do termo do impedimento de se ausentar do País.
15.2.13
7.1.13
O problema é económico
A defesa cerrada da continencia económica de Portugal, por parte dos comentadores e senadores de sempre, habituados a viver dos favores do regime, carecendo de fundamentaçào lógica, são assimiláveis a carpideiras do trágico e inevitável.
É essa inevitabilidade económica que nos "vendem", a própria desvalorização económica do país.
Pretende-se que se está a construir um futuro, através de uma política e estratégia financeira própria de quem tem fogo na casa e tem a água cortada.
A estratégia de sacrifício financeiro, para salvaguarda da tesouraria, só funciona se, economicamente, o país começar a crescer. Para crescer necessita de fomentar a procura interna e, depois, através de economias de escala, e porque não produz tudo aquilo de que necessita, ganhar competitividade no mercado externo, por forma a equilibrar a Balança de Transacçōes Correntes. Fomentar o consumo interno implica aumentar a procura, que implica aumentar o consumo, que implica aumento de rendimentos.
Assiste-se à destruição dos salários reais, o que pressupōe a incapacidade de incrementar o consumo interno. Sem este incremento, o futuro da maioria das empresas em Portugal é a falência. Mesmo as grandes, aquelas que não parecem poder sofrer estão ameaçadas, porque não dependem economicamente das exportaçōes. Exemplos: distribuidoras, Brisa, PT, só para citar muito poucas. Pense-se nas empresas que dependem da melhor ou pior performance só destas três e percebe-se a dimensão. Porque o problema de Portugal é económico. O problema financeiro existe porque não existe economia. Sem economia a tesouraria portuguesa está a prazo e a falência do país inevitável.
A economia, enquanto ciência social, deveria ter em atenção o interesse geral da população e contribuir para uma maior equidade social.
A boa gestão financeira é imperativa sempre, mas num cenário de perca de poder económico, arrisca-se a ser um instrumento de tortura e morte acelerada. Quem não se recordará, aqueles que andam no mundo empresarial há algum tempo, das vantagens de compensaçōes demoradas do Banco de Portugal, para dessa forma ganharem tempo para crescerem economicamente. E os que não o conseguiam morriam, com ou sem cosmética financeira, inexoravelmente.
Portugal, seguindo um caminho de forte restrição fiscal, não está a contribuir para o seu futuro mas sim a liquidar-se a si próprio, porque não pensa o futuro a 15 ou 20 anos mas tão só a tesouraria a 30 dias.
A receita fiscal este ano vai ser mais baixa; a % da dívida externa sobre o PIB vai aumentar; as falências vão crescer; o desemprego aumentar (1 em cada 4 portugueses está actualmente desempregado); a prestação económica do país vai cair; a confiança externa atingirá o patamar zero.
Já fomos um país pobre. Já fomos o país mais rico de entre os pobres. Depois fomos o mais pobre dos ricos. Em 1973, no auge da primeira crise de aumento de preços do petróleo demos cartas na Europa, em crescimento económico. Mais tarde voltámos à condição de pobre entre os ricos.
Hoje somos um país a fechar escolas, a fechar hospitais e centros de saúde. Com o tempo iremos fechar estradas por se tornarem intransitáveis.
Em suma, só nos falta falir, próximo passo da história deste país, se a política financeira teimar em sobreviver e a enterrar a economia.
É essa inevitabilidade económica que nos "vendem", a própria desvalorização económica do país.
Pretende-se que se está a construir um futuro, através de uma política e estratégia financeira própria de quem tem fogo na casa e tem a água cortada.
A estratégia de sacrifício financeiro, para salvaguarda da tesouraria, só funciona se, economicamente, o país começar a crescer. Para crescer necessita de fomentar a procura interna e, depois, através de economias de escala, e porque não produz tudo aquilo de que necessita, ganhar competitividade no mercado externo, por forma a equilibrar a Balança de Transacçōes Correntes. Fomentar o consumo interno implica aumentar a procura, que implica aumentar o consumo, que implica aumento de rendimentos.
Assiste-se à destruição dos salários reais, o que pressupōe a incapacidade de incrementar o consumo interno. Sem este incremento, o futuro da maioria das empresas em Portugal é a falência. Mesmo as grandes, aquelas que não parecem poder sofrer estão ameaçadas, porque não dependem economicamente das exportaçōes. Exemplos: distribuidoras, Brisa, PT, só para citar muito poucas. Pense-se nas empresas que dependem da melhor ou pior performance só destas três e percebe-se a dimensão. Porque o problema de Portugal é económico. O problema financeiro existe porque não existe economia. Sem economia a tesouraria portuguesa está a prazo e a falência do país inevitável.
A economia, enquanto ciência social, deveria ter em atenção o interesse geral da população e contribuir para uma maior equidade social.
A boa gestão financeira é imperativa sempre, mas num cenário de perca de poder económico, arrisca-se a ser um instrumento de tortura e morte acelerada. Quem não se recordará, aqueles que andam no mundo empresarial há algum tempo, das vantagens de compensaçōes demoradas do Banco de Portugal, para dessa forma ganharem tempo para crescerem economicamente. E os que não o conseguiam morriam, com ou sem cosmética financeira, inexoravelmente.
Portugal, seguindo um caminho de forte restrição fiscal, não está a contribuir para o seu futuro mas sim a liquidar-se a si próprio, porque não pensa o futuro a 15 ou 20 anos mas tão só a tesouraria a 30 dias.
A receita fiscal este ano vai ser mais baixa; a % da dívida externa sobre o PIB vai aumentar; as falências vão crescer; o desemprego aumentar (1 em cada 4 portugueses está actualmente desempregado); a prestação económica do país vai cair; a confiança externa atingirá o patamar zero.
Já fomos um país pobre. Já fomos o país mais rico de entre os pobres. Depois fomos o mais pobre dos ricos. Em 1973, no auge da primeira crise de aumento de preços do petróleo demos cartas na Europa, em crescimento económico. Mais tarde voltámos à condição de pobre entre os ricos.
Hoje somos um país a fechar escolas, a fechar hospitais e centros de saúde. Com o tempo iremos fechar estradas por se tornarem intransitáveis.
Em suma, só nos falta falir, próximo passo da história deste país, se a política financeira teimar em sobreviver e a enterrar a economia.
27.11.12
O Euro que já era
Portugal está na Zona Euro (ZE).
Significa este facto, que Portugal faz parte de um núcleo de países que adoptou uma única denominação para as suas moedas.
Mas significará que em Portugal circula a mesma moeda que na Alemanha?
À priori tudo indica que sim, porque a designação das moedas é a mesma. Estamos habituados a reconhecer as moedas pela sua designação; assim faz sentido que se pense tratar da mesma moeda. Mas será?
Vejamos: (1) a Alemanha paga, neste preciso momento, uma taxa de juro nos mercados financeiros, para financiar a sua economia, mais baixa que a que Portugal paga; (2) essa taxa, por ser baixa, implica que as yelds das bonds alemãs são baixas (%), o que implica que há uma valorização do valor par dessas bonds; (3) a atitude dos mercados perante as bonds alemãs é de esperar pela maturidade (soi-disant) e não a da especulação, corolário do que foi escrito anteriormente; (4) Esta atitude dos agentes financeiros implica confiança na economia alemã, o mesmo é dizer, o reflexo da prestação económica é positiva nos instrumentos financeiros, moeda incluída.
E Portugal?
Portugal tem: (1) Difícil acesso aos mercados financeiros internacionais; (2) paga uma taxa de juro sobre os financiamentos externos insustentável, quando comparada com a tx de crescimento do PIB (decréscimo nos últimos dois anos e ss); (2) a tx de juro paga, por ser alta, acarreta yelds altas sobre as emissões de obrigações nacionais; (3) Portugal está sujeito a especulação por parte dos mercados - pressão sobre o valor facial das suas obrigações - resultante do descrédito sobre a prestação económica nacoanl; (4) A atitude dos agentes financeiros demonstra a desconfiança que passa sobre a condução económica do país.
Parece então claro que: (a) a economia continua a ser a garante da avaliação do desempenho dos países; (b) a moeda e o seu valor é uma resultante de (a); (c) sendo a tx de juro sobre os capitais externos emprestados, substancialmente superior em Portugal que na Alemanha, torna-se claro que a moeda não é encarada da mesma maneira, ou seja; (d) o euro português não é o mesmo que o euro alemão.
Reflexo directo da economia, a moeda portuguesa afastou-se da alemã. O euro não vale o mesmo, caso contrário o comportamento dos agentes económicos seria idêntico num caso e noutro, com relação às economias mencionadas.
Ressalta ainda uma outra falácia política:não há viralidade na ZE. Acaso houvesse, a má prestação económica, á vez, de Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e também frança, teria atingido de igual forma todos os países da ZE, tendo estes de pagar nos mercados financeiros taxas de juro idênticas; por outras palavras o dinheiro seria igualmente caro ou barato para todos. Ora não é este o caso.
Para Portugal existe uma tx de juro alta, diferente da espanhola, melhor que a grega e muito pior que a alemã. O mesmo é dizer, é sobre a prestação económica que incide a avaliação, repercutindo-se esta na avaliação do risco dos países.
Ainda de outra forma e por palavras mais sensatas: não existe um euro enquanto moeda. Existem muitos euros, todos diferentes e que por mero acaso, hoje têm a mesma denominação.
mas em Portugal já não é o euro que circula. Talvez seja a piastra portuguesa, conforme existe a piastra grega e a irlandesa, e a espanhola, e a italiana, todas diferentes mas tão distantes do euro alemão.
Dizer-se que se corre o risco de deixar o euro, é o mesmo que afirmar que corremos o risco de perder as províncias ultramarinas.
11.5.12
Questões de números
A notícia foi avançada ontem: as exportações portuguesas atingiram um recorde histórico e, em simultâneo, as importações caíram.
Dito assim, com números à mistura, até parece coisa boa. Mas consigo imaginar, sem dificuldade, os muitos portugueses que seguiam o noticiário das oito da noite, perguntar-se porque razão a sua pobreza aumenta, bem como a dos que conhecem, se os números pretendem mostrar uma economia diferente, para melhor.
Será que existem duas economias em Portugal? Será esta a famosa economia paralela? Não e não.
Só há uma economia e, a outra, é mesmo a que foge ao Balanço Fiscal do Estado.
Os números apresentados em si mesmos nada significam, porque:
(1) Não foi feita qualquer menção à produtividade, ou por outras palavras, não sabemos se a produtividade cresceu;
(2) Não foi indicado qualquer valor para o consumo das famílias;
(3) Não se mencionaram margens de comercialização nos produtos agora exportados.
E estes eram os indicadores mais simples de fornecer.
Quer isto dizer que, perante uma economia recessiva, uma desvalorização económica clara, um desemprego crescente, o aumento acelerado da miséria e a falência sucessiva de empresas, a leitura de tais indicadores acaba por ser redundante.
As exportações aumentam fruto da falta de poder de compra dos portugueses, não por um aumento directo da produtividade mas por necessidade de escoamento dos produtos.
Se pensarmos que o nosso principal parceiro comercial é Espanha, lê-se claramente uma baixa de preços, significando uma diminuição da margem de comercialização e, muito provavelmente, também uma diminuição quantitativa na produção (pela redução do mercado nacional não ser compensada com a procura externa). Menos receitas com menos produção significa mão-de-obra e hora/máquina excessivas. Os primeiros sofrem primeiro.
Também por esta via o Balanço Fiscal se ressente; menos IRC, menor receita em sede de IVA e, no futuro próximo, menos IRS nos cofres do Estado.
Não nos esqueçamos que se por cá pedimos para comprar português, os outros fazem o mesmo. Por vezes pensamos que estamos sozinhos nas soluções.
As famílias portuguesas estão a consumir menos. Significa que está a aumentar a poupança? Não, só de forma residual. Porque aquilo que não se compra já faz parte do cabaz de bens essenciais e bens de consumo primários. Já não falamos de luxo, de caprichos. Falamos de necessidades claras, quer alimentares numa face, quer de índole social, de bem-estar mental e emocional na outra face.
Assim, as boas notícias escondem más notícias: economia esfrangalhada, vidas ameaçadas, toda uma sociedade afectada psicológica e mentalmente.
Se as notícias fossem boas a história seria outra, nas restantes amostragens do comportamento económico nacional.
Porque em economia tudo é causa e efeito.
Porque em economia tudo é causa e efeito.
12.12.11
As (boas) Razões Inglesas
David Cameron não está sob fogo no Reino Unido.
O Tratado de Lisboa (que nem sequer considero ter sido eficaz, na forma e no conteúdo) pretendeu ultrapassar a impossibilidade de levar mais longe (ainda, se possível) através de uma Constituição Europeia, o suposto processo criador de uma entidade própria. Como agora se verifica, essa entidade própria nunca foi o verdadeiro objectivo, por impossibilidade completa, mas uma tentativa de um Directório fazer o que normalmente faz: ditar ordens e garantir obediência.
Cada espaço político e social tem as suas idiossincrasias, necessitando de medidas pontuais e específicas face aos problemas encontrados, sob pena do sistema começar a promover desigualdades e injustiças, reflexas num mau aproveitamento dos recursos locais e, subjugando à lógica dos mais fortes, o interesse dos mais fracos.
Não se trata de concentrar cada vez mais poder em entidades políticas cada vez maiores, mas sim de organizar as compatibilidades, de preparar as convergencias, de difundir as mudanças.
O tão propalado acordo inter-governos (a 26) pretende escamotear todas estas razões.
No Tratado de Lisboa ficou impresso o "Reforço dos parlamentos nacionais" e " Mais garantias para os Estados e maior flexibilidade".
O acordo inter-governamental agora previsto, pretende ultrapassar o "mau" Tratado de Lisboa, impondo, em jeito de coupe d´etat, uma Constituição na União Europeia, sem que se chame Constituição e sem que as populações sejam auscultadas; pretende-se, assim, que em nome das terríficas consequências da queda do euro (ainda não quantificadas nem explicadas convincentemente), se abocanhe esta Europa de uma só vez, a uma só voz, a alemã, com um Petain a jeito.
Analisando o gráfico acima, verifica-se que o Reino Unido (RU) apresenta crescimento do seu PIB, mesmo que residual. Os 0,5% de crescimento no 3º trimestre de 2001 devem-se aos sectores da produção e serviços, não obstante uma quebra percentual semelhante na construção civil.
Por outro lado, de acordo com o gráfico de baixo, fica claro que há uma proximidade entre o comportamento do PIB dos EUA e do RU, o que afasta a premissa que o RU ficaria, inexoravelmente, afastado do interesse orbital dos EUA, no que concerne à importância económica (que nunca geo-política estratégica).
Também é possível compara realidades de distinta maneira: a importância dos PIB de diferentes países e zonas, realçando a dimensão do PIB da zona euro (ZE), comparativamente com o PIB alemão e o do RU e, ainda, com o dos EUA.
Verifica-se a importância do PIB alemão na ZE, a proximidade entre o PIB alemão, o chinês e o britânico, bem como o do EUA e o da ZE.
Questões fundamentais quando se fala em repartir poder, economia e finanças.
Há crescimento da dívida pública, que se situa actualmente nos 64% do PIB. Pergunta: 64% de dívida, relativamente ao PIB é preocupante para a dimensão britânica? Resposta pronta: NÃO.
Os britânicos já passaram por situações bem piores do que a actual. O que sempre os defendeu foi serem donos do seu destino e poderem assumir, sem necessidade de aprovações prévias de terceiros, as melhores opções económicas e financeiras para o reino. Actualmente, com um défice pouco superior a 60% do PIB, quem ousará admitir que necessitem de regulação externa, ainda por cima imposta por alemães ?
Que voltem a tentar pelo ar e pelo mar, que por papel não vão lá.
Os liberais que atirem o RU para eleições: os Tories ganham com maioria absoluta. Por isso mesmo não o fazem; falam, nada mais. E por cá compra-se, porque se quer vender compadrio e porque somos um conjunto confuso de comadres assustadas.
God bless UK.
10.12.11
9.12.11
Where is the Money?
Umas palmadas.
E os países perguntam: Where is the Money?
Umas reguadas depois e os países perguntam: Where is the Money?
Finalmente o quarto escuro, onde todos os medos são infundidos (citando Frank Zappa: [in the dark where all the fevers grow, under the water where the shark bubbles blow...]) e os países perguntam: Where is the Money?
Os países afundam-se, são recriminados por despesismo, não vêem saídas económicas, perguntam pelo dinheiro e levam como resposta: está caladinho que agora quem manda somos nós e a vossa economia já era; agora só conta a nossa.
Entretanto os juros continuam a subir, a um ritmo que acompanha a queda das economias e o aumento da probabilidade (feita certeza) do incumprimento no serviço da dívida. E o desemprego aumenta; e a miséria aumenta; e o desespero aumenta. E, depois, não se anunciam os suicídios que se repetem diariamente, porque não interessam à opinião pública.
(Para os mais distraídos, recordo a crise da "cadeira vazia" na década de 60, quando os ingleses pretenderam ingressar na então CEE e os franceses se opuseram. Nada de novo, portanto. Nenhum tipo de preocupação e sim, algum alívio, com a posição inglesa. Mas atenção, porque os ingleses são os únicos que levam muito a sério a sua História e a sua economia e estão melhor sem euro, do que com a pata alemã em cima).
Depois, bem, depois pretender inscrever na Cosntituição Portuguesa um limite ao défice, significa cortar cerce qualquer possibilidade de responder com dívida pública, a problemas de assimetria económica e da correspondente necessidade de fazer crescer a economia. mais uma vez afirmo: é da responsabilidade do Estado a criação de condições para aumentar o emprego. Se um Estado que não tem moeda, aceita não ter política orçamental e, last but not least, ainda se fustiga obrigando-se a inserir na Lei Fundamental, um limite à capacidade de endividamento, então esse Estado não é soberano: é um Estado liliputiano, onde só se sobreviverá, por via de um retrocesso económico de 90 anos.
Depois, bem, depois pretender inscrever na Cosntituição Portuguesa um limite ao défice, significa cortar cerce qualquer possibilidade de responder com dívida pública, a problemas de assimetria económica e da correspondente necessidade de fazer crescer a economia. mais uma vez afirmo: é da responsabilidade do Estado a criação de condições para aumentar o emprego. Se um Estado que não tem moeda, aceita não ter política orçamental e, last but not least, ainda se fustiga obrigando-se a inserir na Lei Fundamental, um limite à capacidade de endividamento, então esse Estado não é soberano: é um Estado liliputiano, onde só se sobreviverá, por via de um retrocesso económico de 90 anos.
4.12.11
A economia fixada no exterior
[....um governo económico para a Europa.]
Sem moeda, sem política orçamental, sem economia definida no espaço nacional, nas próximas eleições a questão que se coloca é a de saber em que é que se vai votar, e não mais em quem votar.
Sem nenhuma das razões apontadas incialmente, não há qualquer razão plausível e palpável para que se vote em qualquer um dos partidos do espectro político nacional. O voto pode ser branco ou nulo, mas não pode ser político, porque a política não existirá. Esta situação consagra a mais absoluta ausência de democracia.
Defender a dependência orçamental e económica do exterior, depois de ter capitulado da moeda, equivale à morte do Estado, da soberania nacional, da própria existência da actividade política.
É, no final, a ausência de liberdade que impera, a escravatura regional por ausencia de solidariedade, a demonstração cabal da falta de capacidades e de ideias para conduzir o País, o descohecimento de ideais.
Começa a fazer todo o sentido, que se avente a descaracterização do feriado do 1º de Dezembro.
28.11.11
O ovo de Colombo
A supressão de quatro feriados em Portugal será uma medida fundamental, para a tão desejada recuperação económica.
Qualquer um de nós está consciente disso e da importancia da medida, que secundariza, por completo, a necessidade de cortar nas empresas e instituições públicas existentes e, obviamente, a sua discussão política.
24.11.11
Que mais quererão ? Nada mais há para dar....
Barroso, cidadão outrora portugues, que se naturalizou alemão para poder jogar pela selecção Germanica, propõe, numa jogada arrojada dentro da área, com drible curto, que Portugal perca a soberania orçamental, o mesmo é dizer, depois de perdida a moeda, que se entregue a esta Europa cada vez mais germanófila.
Espera Barroso o respectivo penalti, com uma entrada em carrinho do governo portugues - ciente da enorme dificuldade da dupla de centrais portugueses, quer no jogo aéreo, quer a jogar com os pés (os pontapés para o ar, na economia, atestam a falta de jeito).
Assim, coloca-se Portugal a jeito (e outros) para ser forçado a introduzir, como disciplina obrigatória no 1º ciclo, o alemão e aprender o respectivo hino.
E nós vamos assistindo a isto, convencidos que estamos a fazer grandes sacrifícios, em nome dos nossos filhos. Mas não; os sacrifícios são em nome de filhos que não os nossos.
22.11.11
21.11.11
Medidas macroeconómicas
Tomando o PIB de 2010, uma desvalorização esperada da economia portuguesa de 15% em 2012, bem como uma retracção económica de 2% em 2011 e 3% em 2012, poder-se-á afirmar que a nossa dívida externa (estatal) passará de 120% em 2010 para 140% em 2012.
Pergunto-me se estas são, efectivamente, medidas de cariz macroeconómico.
11.11.11
Desvalorizar a economia não é o caminho
O Governo corta nos subsídios, diminui e reduz as pensões em valor e em número, aumenta os impostos directos e indirectos, até pode decretar que a redução salarial abrange toda a economia e não, tão só, a função pública. Por um lado pretende reduzir a sua própria despesa, por outro conformar os salários ao nível da competitividade, considerada necessária, para a recuperação económica. Por outras palavras, é um jogo de desvalorização interna.
Se o Governo beneficia do lado da despesa, quando paga menos, o que acontece do lado da receita ? O Governo recebe menos na cobrança dos impostos sobre o rendimento. Quando aumenta os impostos, reduz o poder de compra, reduzindo a actividade económica e ,assim, a colecta de impostos baixa.Os preços caem internamente, pela redução da procura, originando um aumento da dívida junto dos credores, medida em unidades de produção interna.
Esta desvalorização interna, baseia-se na esperança que o aumento da dívida em termos de unidades produzidas, seja compensada por um aumento da produção com preços mais baixos (pela redução do custo do factor mão-de-obra), que valerá um aumento da receita fiscal através das empresas e de uma poupança nos custos sociais do Estado.
Mas será plausível esperar esta situação, em economias com problemas estruturais como a nossa ? Ou a grega ?
Este é o programa que nos é imposto externamente. Infelizmente, este programa de ajustamentos, afecta sempre de forma grosseira e vertiginosa, os países mais fracos.
Com medidas mais ou menos draconianas, de ajustamento do balanço fiscal, os Governos debater-se-ão sempre com problemas de deflação, derivados das medidas fiscais impostas.
Em conclusão, sem uma intervenção decidida e conjunta da Zona Euro, para a correcção dos desequilíbrios orçamentais dos países fiscalmente debilitados, as medidas de nada servirão, senão para atrasar ainda mais as respectivas economias, colocando de forma premente a necessidade de adopção de um Plano B, que considere o crescimento económico dos países mais fracos, através do aumento de investimento dos países mais fortes.
Caso contrário (sem crescimento económico sustentado), por cada euro pago a menos, pode grosseiramente considerar-se que a dívida nacional aumenta, em termos reais, na proporção exacta do percentual de desvalorização interna.
É então falacioso, considerar-se que se está a caminho da virtualização das contas públicas, quando na realidade, mais não se faz que aumentar essa dívida, pela desvalorização da economia interna que foi provocada.
anuncia-se o fim de uma era; a Zona Euro
Como referi variadissimas vezes, o euro só não colapsaria se os países core da UE estivessem na disposição de injectar liquidez nos países em dificuldades: o princípio é de vasos comunicantes, e só este sustenta o grande argumento para a existência do euro: a coesão económica.
Claro que essa injecção levaria à emissão de moeda pelo Banco Central Europeu (BCE). Aqui chegados, os temores recairam sempre sobre a inflação. Temores injustificados, porque em economias recessivas a inflação não chega a assustar.
Defendi que o BCE deveria baixar a taxa de juro até zero. Nada foi feito e nada será feito, porque nunca houve vontade e percepção do perigo; porque o temor inflacionista falou sempre mais alto.
Agora chega ao fim a aventura do euro, a menos que mudem as políticas alemãs, a sua forma de encarar a Zona Euro, forçando à mudança da política do BCE (porque só a Alemanha pode garantir a confiabilidade na emissão de mais moeda). Alguém acredita nisso ? Não creio.
Sempre detestei as meias-coisas.É preferível uma conceptualização rápida da nova Europa e partir para a solução dos problemas, que ficar neste limbo que pára as Nações e os povos no tempo e lhes limita o espaço.
Para conferir aqui a opinião de P. Krugman.
O quê ???
Procurador-Geral da República abre inquérito a Otelo, se houver golpe de Estado.
Desculpe, diga lá outra vez?
Só pode ser brincadeira.....
Desculpe, diga lá outra vez?
Só pode ser brincadeira.....
3.11.11
O modelo económico (des)elegante para o País
O Primeiro-Ministro (PM) tornou claro ontem, uma vez mais fora do País, que o acordo com a Troika requer uma nova conceptualização, reafirmado hoje, aliás, pelo próprio Presidente da República (PR).
O Pm fez notar, para nosso conhecimento, que as verbas acordadas com a Troika são suficientes para fazer face à despesa do estado, mas que Portugal necessita de financiar igualmente a sua economia. Fez notar ainda que a taxa de juro, de colocação de dívida a dois anos, já ultrapassava os 20%.
Afinal, do que é que estamos a falar ? De uma economia, a portuguesa que para ser viável, necessita de aplicar os capitais que vai buscar, a uma TIR a roçar os 30%.
É este pressuposto verosímil ? A resposta parece fácil: não.
Não sendo, as perguntas acumulam-se: (a) como se irá pagar o que estamos agora a dever? (b) como pagar os novos financiamentos?; (c) como fazer descolar o país economicamente, tirando-o da recessão onde se encontra mergulhado?; (d) como reduzir a dívida externa?
Como fazer tudo isto no presente modelo económico, que inclui as imposições negociadas?
O Pm fez notar, para nosso conhecimento, que as verbas acordadas com a Troika são suficientes para fazer face à despesa do estado, mas que Portugal necessita de financiar igualmente a sua economia. Fez notar ainda que a taxa de juro, de colocação de dívida a dois anos, já ultrapassava os 20%.
Temos então um estado que estará, supostamente, financiado e uma economia que, para se financiar, tem de recorrer a empréstimos com taxas de juro superiores a 20%. É esta economia que garante o equilíbrio do Balanço Fiscal, com que o estado conta para fazer face à dívida externa. Por outras palavras, se o desempenho económico for inferior ao esperado, a capacidade de cumprimento do serviço da dívida está em causa.
Vejamos o que significa a taxa de juro mencionada:
- O prémio de risco percebido pelos mercados, em relação a Portugal, é elevado. Por outras palavras, o perigo de default enorme.
- Uma economia capitalizada a um juro superior a 20% ao ano, exige uma taxa interna de rentabilidade (TIR) superior a 30%, caso contrário não gera riqueza (se a TIR for igual ao juro é indiferente);
- Mas, acaso a TIR seja inferior à taxa de juro, a economia está condenada (falamos da TIR da economia no seu todo).
É este pressuposto verosímil ? A resposta parece fácil: não.
Não sendo, as perguntas acumulam-se: (a) como se irá pagar o que estamos agora a dever? (b) como pagar os novos financiamentos?; (c) como fazer descolar o país economicamente, tirando-o da recessão onde se encontra mergulhado?; (d) como reduzir a dívida externa?
Como fazer tudo isto no presente modelo económico, que inclui as imposições negociadas?
25.10.11
PNB vs PIB
As diferenças entre PNB (Produto Nacional Bruto), GNP em inglês e PIB (Produto Interno Bruto), GDP naquela língua, fazem toda a diferença na altura de "olhar" os números.
O artigo de P. Krugman de hoje, no NYT, salienta-o muitíssimo bem.
A vontade de que tudo corra de acordo com as nossas pretensões colide, bastas vezes, com a realidade e a capacidade de análise dos mais distraídos.
21.10.11
Esquece muito....
Curioso que o Primeiro-Ministro não dê pistas de como pretende incentivar a criação de postos de trabalho, através de políticas macroeconómicas, obrigação do governo e não dos privados, mas foque o discurso na obrigatória redução de salários no privado e, igualmente, no desemprego crescente (no privado que não no Estado). Engraçado porque evidencia o mal maior deste governo (e de todos os anteriores): não têm resposta adequada à crise e sabem, bem, que as medidas tomadas só a acentuam (justificar despedimentos e baixos salários com aumento de competitividade é uma monstruosidade económica; na realidade, baixos salários e taxas de juro altas (através dos spreads) reduzem, drasticamente, a competitividade, por força de um menor esforço de investimento em bens de equipamento e, uma aposta clara, na força de trabalho braçal. A competitividade não se mede só pelos preços, mas acima de tudo pela relação preço/qualidade. Se assim não fosse, há muito que, por exemplo, empresas como a Bayer ou a ENI teriam soçobrado, perante o poderio chinês (só que a qualidade não é a mesma, em desfavor da China)....
30.9.11
O Euro no centro da crise.....
Muito embora os países periféricos da Zona Euro (ZE) não tenham feito tudo bem feito, as injecções de capitais e as paragens súbitas desses mesmos inflows, empurraram-nos para a crise financeira.
A esta luz, parece claro que ao invés dos enormes "buracos" serem resultado directo de uma política financeira e fiscal desastrosa ou de consumo excessivo, os défices observados são a contrapartida necessária e inevitável desses enormes fluxos de capitais externos, provenientes dos países mais poderosos da ZE. Igualmente, ao invés de preocupações com taxas de inflação acima da média e deterioração da competitividade desses países, serem sinais de laxismo fiscal e de ineficiências laborais, a valorização do euro, inevitável, é a principal causa das ineficiências, pelos mecanismos que levaram à criação destes défices nas contas-correntes dos países mais fracos na ZE.
Sem retirar culpas próprias - a crise é tão grande que há espaço para todos e tudo - a verdade é que, uma vez adoptado o euro como moeda comum, várias forças se conjugaram no sentido de empurrar as economias mais fracas para situações de crise financeira extrema, independentemente da gestão da coisa pública por parte dos governos.
Mais do que a irresponsabilidade governativa, a moeda comum é, ela própria, a base da crise actual.
12.9.11
Os erros do BCE
Os maus da fita, hoje, são os países que não respeitaram o défice, que gastaram o que não podiam, os que não produzem. Por tanto, terão de ser responsabilizados e pagar a factura. O primeiro a preparar-se para fazer face ao custo é a Grécia.
Mas será que todos os males são devidos a estes malandros que, ao contrário da formiga, agiram como a cigarra?
Não creio.
Por pontos: a política do BCE tem sido direccionada, unicamente, para o controle da inflação na zona euro. Na ultima reunião, onde deveria ter baixado a taxa de juro de referência, optou por a manter. Esta política de manutenção da inflação faria sentido, se acaso estivessemos em fase de crescimento económico, porque uma inflação controlada tem os seus efeitos positivos. Mas não, não estamos. Pelo contrário, vivemos tempos de recessão económica, onde a questão inflacionista não se coloca.
Esta constatação conduz-nos a outra: e se tivessemos a nossa própria moeda, o escudo?
Imagine-se o Reino Unido (RU): não concedeu espaço ao euro e manteve a Libra. Acaso se fala na dívida pública inglesa, pelo menos ao nível do que se fala e especula sobre os países da zona euro? Não. Porquê? Porque o RU pode emitir moeda através do seu Banco Central.
Dir-me-ão: cunhagem de moeda conduz a inflação. Respondo: e é grave? Nem de perto, porque em clima de recessão económica nem acredito que a cunhagem de moeda gerasse qualquer tipo de inflação que se visse.
E no espaço euro? Os países perderam a capacidade de cunhar moeda porque perderam a moeda. Quando surgiram os primeiros problemas, derivados da crise financeira internacional, o BCE virou costas aos países do euro e os países viram-se na necessidade de se financiar internamente, através das instituições financeiras locais, que por seu turno se endividaram externamente. Os países endividaram-se também externamente, por ser impossível financiarem-se só internamente, mas entretanto esgotaram o sistema financeiro local.
Onde entra o BCE (Banco Central Europeu) neste imbróglio? O papel do BCE, desde o início da crise, foi marcado pela incompetência. Porquê? Porque ao substituir-se as moedas locais por uma moeda única, os países necessitavam de um Banco Central que agisse de acordo com as necessidades das economias. Como se constata, financiar as várias economias, atempadamente, teria evitado a exaustão do sistema financeiro dos países da zona euro. Por outras palavras, sendo necessário injectar liquidez, o BCE deveria ter comprado dívida aos países, libertando as instituições financeiras locais dessa responsabilidade. Mas não o fez.
Nas duas últimas semanas começou a fazê-lo, mas tardiamente. Mesmo assim, foi criticado e travado por interesses vários e conhecidos. mas como afirmo, já o fez tardiamente, quando já se encontravam esgotadas todas as soluções.
Agora, não resta outro caminho se não continuar a alimentar as várias economias, com a espanhola e italiana à cabeça. É possível? Não creio. Por estas razões, acredito que o sistema económico, como o conhecemos, está por semanas.
Os tempos que se aproximam são uma incógnita, para a Europa e para o Mundo, mas o fim da União Europeia e do euro está próximo.
11.9.11
Hoje.....
Sair, não sair....
Sair ou não sair da zona euro.
Se a Grécia colapsar - como tudo indica - e sair da zona euro, é impensável o colapso dos bancos gregos, porque não importa se a dívida externa grega está fixada na moeda única: pura e simplesmente os gregos não vão pagar nada, durante muito tempo, e irão reestruturar essa mesma dívida. Não esquecer que terão moeda própria e poderão cunhar a quantidade necessária para financiar a sua economia. A paridade com o euro não é fundamental, como não foi para a Argentina, quando decidiu abandonar a paridade em relação ao dólar, atravessando-se à frente do que eram as recomendações do FMI.
O mesmo princípio aplica-se a qualquer um dos países do euro.
6.9.11
Não há perigo de uma NOVA recessão
O Presidente do Banco Mundial afirma que não acredita que o mundo esteja à beira de uma nova recessão. Claro que não. Não está. Os EUA não criaram um único novo posto de trabalho no mês de Agosto (mão-de-obra rural não incluída, como sempre). Em Julho tinham criado 55.000 novos postos de trabalho. Entretanto têm 14 milhões de desempregados. estes são números animadores, sem dúvida nenhuma. Não, o mundo não vai entrar numa nova recessão; o mundo está a viver a mesma recessão desde 2007. Só que a recessão está cada vez pior e, como já passaram mais de 6 meses, teoricamente já podemos falar em depressão. Mas o senhor tem razão: não há o perigo de uma NOVA recessão. Nova nunca.
11.8.11
O homem no seu melhor
Nem comunismo nem neoliberalismo. A economia mundial destruiu o comunismo e está a fazer em escombros o neoliberalismo. É a própria economia, num sistema de auto-regeneração, que se encarrega de desfazer os erros que o homem comete. Porque funciona numa óptica de deve e haver, de equilíbrios entre quem tem e nada tem, porque obedece à lei da oferta e da procura.
Em Portugal - e no mundo - a economia está a ser entendida como um dogma, quando na realidade é um instrumento de bem-estar. As finanças estão a ser encaradas como uma solução, quando na realidade são uma resultante do bem-estar.
Sem bem-estar não há economia nem há finanças, mas só um amontoado de teorias e teoréticos de gabinete, de agentes que procuram mais-valias e satisfação pessoal, especuladores e jogadores. Esta gente no seu conjunto, esmaga o sentido económico da política e esmaga, finalmente, a própria política, fazendo esta ceder a tendências totalitárias.
8.8.11
7.8.11
Pois.....
O Prof. Eduardo Lourenço afirmou hoje que:
"contrariamente à opinião de várias pessoas", pensa que "a saída continua a ser através da Europa".
"contrariamente à opinião de várias pessoas", pensa que "a saída continua a ser através da Europa".
O Prof. está radicado em Paris.
Mas disse mais: Portugal tem que resolver a crise "em casa" e depois "na casa ainda não comum, mas que se deseja comum no futuro chamada Europa". Vive radicado em França, recordo.
E acrescentou: apontou a sua aldeia como um exemplo das suas palavras: "Esta aldeia nunca viveu tão bem. Era muito mais pobre e nunca ninguém tinha recebido um tostão que viesse do Estado".
Digo eu: POIS!!!
6.8.11
Há gente que está a mais no Parlamento
Assistir a debates parlamentares (como o recente sobre o denominado orçamento rectificativo) é tarefa penosa. Ver deputados lerem, linha a linha, folhas A4 inteiras nas suas intervenções, é o mesmo que dizer ao país que, aqueles seres estranhoa aos interesses nacionais, não perfilham de qualquer opinião política válida e não têm ideias concretas sobre as matérias em discussão. Não é aceitável e são corpos a mais na Assembleia da república.
Aceitam-se as cábulas - do mal o menos - para não se perder o horizonte da intervenção. Não se aceitam discursos escritos por terceiros, ou mesmo pelos próprios, porque o significado é e será sempre o mesmo: impreparação.
5.8.11
O que os comunistas europeus não querem....
Os verdes alemães são giros: defendem tudo aquilo que a Alemanha menos quer agora, a saber: um Ministro das Finanças europeu e as Eurobonds. Não quer, pelo menos enquanto não dominar económica e politicamente toda a Europa, e esse processo vem muito longe, se algum dia chegar. Não quer também, principalmente, enquanto não medir com exactidão a dimensão da tragédia europeia e necessariamente mundial, ao nível financeiro. Por outras palavras, não quer enquanto não souber se o euro se aguenta; mas a resposta que procuram é fácil: não aguenta. E a pressão que estão a sentir dos mercados prende-se com a indefinição ao nível das verbas,que a Alemanha venha a financiar - ainda não financiou um centimo, sublinhe-se, mas a preocupação dos mercados está lá, enquanto não disserem claramente (e vão dizer) que não põem um chavo.
O problema dos verdes, contudo, é outro: têm um medo de morte que a Europa vire toda à direita, mas não uma direita liberal; a outra, a mais dura, a que é social não liberal. Daí os discursos encomendados pelo PCP do sítio e os PCP dos outros sítios todos.
e a Euribor desce, obviamente....
Pretender que o BCE iria subir a taxa de juro da zona euro e, por isso, ter subido ligeiramente a euribor, primeiro, para hoje, obviamente cair, depois de se saber que a taxa de juro do BCE ficaria inalterada, é não perceber nada de economia. Não só a taxa ficou inalterada, como será quase impossível não a fazer descer nas próximas reuniões. Porque o problema na Europa já não é a inflação, mas algo muito pior: a futura deflação (não confundir com desinflação).
Ver mal implica ver menos
As bolsas caem em todo o mundo. A preocupação pelo fraco desempenho económico mundial faz-se sentir. Entretanto, mais de 80% dos americanos, em sondagem, revelam-se insatisfeitos com os cortes orçamentais aceites por Obama, porque sabem que uma desaceleração da despesa produtiva do estado americano, em nada contribuirá para a solução dos 14 milhões de desempregados.
São realidades económicas.
Em Portugal, a cegueira política e económica leva a que se veja sempre menos do que há para ver.
4.8.11
2.8.11
E agora EUA ?
Como vai a economia americana crescer, com a desaceleração económica actual - e a própria economia mundial - se o presidente aceitou fazer cortes extremos na despesa pública? Lá, como cá, há muita decisão económica por explicar, muito erro económico cometido, muita asneira no ar.
Será que no fim só restará a outra via de recuperação económica?
1.8.11
estado e hipocrisia
O estado não pode, os políticos não podem, de acordo com a optica neo-liberal, imiscuir-se na gestão das empresas, halas, mas pode preocupar-se com a forma como são escolhidos aqueles que são despedidos e os que ficam, nas entidades privadas. Santa hipocrisia.
31.7.11
A miopia política nacional
A venda das "Golden Share" é um mau negócio para o estado portugues: (1) porque perde capacidade de intervenção nessas empresas, fundamentais do ponto de vista da autonomia nacional; (2) porque a indecisão mundial é enorme e esta é a pior altura para perder o controle do estado sobre a economia, e as suas actividades core; (3) porque a decisão de alienar vem na pior altura, quando o país e os seus activos são cotados como "lixo"; (4) porque, como resultante, o preço de alienação será sempre muito inferior ao real valor das participações.
A falta de visão continua a ser muito aborrecida. Por vezes parece existir uma completa incapacidade de casar o "tempo" com a "oportunidade", como se um e outra não estivessem intimamente ligados.
29.7.11
Fresh Out of Bailout
Os vários bailouts, empreendidos um pouco por todo o mundo, são irrepetíveis, o que significa que o regresso a 2009 não significa regressar à mesma crise, mas a uma muito maior. Como escrevi aqui e aqui, só para citar alguns exemplos que ilustram como, infelizmente, não teria sido difícil chegar perto da verdade e encetar caminhos de regularização das economias.
Para mal geral, os neo-liberais mantiveram o seu poder de instrumentalização das políticas económicas.
Porque se pode ser liberal e defender ideias liberais: é fundamental contudo, perceber a diferença entre a pertinácia da defesa e a exequibilidade da aplicação da doutrina, conforme aos tempos.
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