12.12.11

As (boas) Razões Inglesas

David Cameron não está sob fogo no Reino Unido.
O Tratado de Lisboa (que nem sequer considero ter sido eficaz, na forma e no conteúdo) pretendeu ultrapassar a impossibilidade de levar mais longe (ainda, se possível) através de uma Constituição Europeia, o suposto processo criador de uma entidade própria. Como agora se verifica, essa entidade própria nunca foi o verdadeiro objectivo, por impossibilidade completa, mas uma tentativa de um Directório fazer o que normalmente faz: ditar ordens e garantir obediência. 

Cada espaço político e social tem as suas idiossincrasias, necessitando de medidas pontuais e específicas face aos problemas encontrados, sob pena do sistema começar a promover desigualdades e injustiças, reflexas num mau aproveitamento dos recursos locais e, subjugando à lógica dos mais fortes, o interesse dos mais fracos.
Não se trata de concentrar cada vez mais poder em entidades políticas cada vez maiores, mas sim de organizar as compatibilidades, de preparar as convergencias, de difundir as mudanças.

O tão propalado acordo inter-governos (a 26) pretende escamotear todas estas razões.
No Tratado de Lisboa ficou impresso o "Reforço dos parlamentos nacionais" e " Mais garantias para os Estados e maior flexibilidade".
O acordo inter-governamental agora previsto, pretende ultrapassar o "mau" Tratado de Lisboa, impondo, em jeito de coupe d´etat, uma Constituição na União Europeia, sem que se chame Constituição e sem que as populações sejam auscultadas; pretende-se, assim, que em nome das terríficas consequências da queda do euro (ainda não quantificadas nem explicadas convincentemente), se abocanhe esta Europa de uma só vez, a uma só voz, a alemã, com um Petain a jeito.


united kingdom gdp growth rate
Analisando o gráfico acima, verifica-se que o Reino Unido (RU) apresenta crescimento do seu PIB, mesmo que residual. Os 0,5% de crescimento no 3º trimestre de 2001 devem-se aos sectores da produção e serviços, não obstante uma quebra percentual semelhante na construção civil.


Por outro lado, de acordo com o gráfico de baixo, fica claro que há uma proximidade entre o comportamento do PIB dos EUA e do RU, o que afasta a premissa que o RU ficaria, inexoravelmente, afastado do interesse orbital dos EUA, no que concerne à importância económica (que nunca geo-política estratégica).





Também é possível compara realidades de distinta maneira: a importância dos PIB de diferentes países e zonas, realçando a dimensão do PIB da zona euro (ZE), comparativamente com o PIB alemão e o do RU e, ainda, com o dos EUA. 


Verifica-se a importância do PIB alemão na ZE, a proximidade entre o PIB alemão, o chinês e o britânico, bem como o do EUA e o da ZE. 
Questões fundamentais quando se fala em repartir poder, economia e finanças.


Há crescimento da dívida pública, que se situa actualmente nos 64% do PIB. Pergunta: 64% de dívida, relativamente ao PIB é preocupante para a dimensão britânica? Resposta pronta: NÃO.


Historicamente, a dívida pública britânica já passou por momentos de enorme turbulência, com razões claras (Guerras coloniais com pico nas guerras napoleónicas em 1815 e I e II GG).


Os britânicos já passaram por situações bem piores do que a actual. O que sempre os defendeu foi serem donos do seu destino e poderem assumir, sem necessidade de aprovações prévias de terceiros, as melhores opções económicas e financeiras para o reino. Actualmente, com um défice pouco superior a 60% do PIB, quem ousará admitir que necessitem de regulação externa, ainda por cima imposta por alemães ?
Que voltem a tentar pelo ar e pelo mar, que por papel não vão lá. 

Os liberais que atirem o RU para eleições: os Tories ganham com maioria absoluta. Por isso mesmo não o fazem; falam, nada mais. E por cá compra-se, porque se quer vender compadrio e porque somos um conjunto confuso de comadres assustadas.
God bless UK.  



9.12.11

Where is the Money?

Umas palmadas.
E os países perguntam: Where is the Money?
Umas reguadas depois e os países perguntam: Where is the Money?
Finalmente o quarto escuro, onde todos os medos são infundidos (citando Frank Zappa: [in the dark where all the fevers grow, under the water where the shark bubbles blow...]) e os países perguntam: Where is the Money?

Os países afundam-se, são recriminados por despesismo, não vêem saídas económicas, perguntam pelo dinheiro e levam como resposta: está caladinho que agora quem manda somos nós e a vossa economia já era; agora só conta a nossa.
Entretanto os juros continuam a subir, a um ritmo que acompanha a queda das economias e o aumento da probabilidade (feita certeza) do incumprimento no serviço da dívida. E o desemprego aumenta; e a miséria aumenta; e o desespero aumenta. E, depois, não se anunciam os suicídios que se repetem diariamente, porque não interessam à opinião pública.
(Para os mais distraídos, recordo a crise da "cadeira vazia" na década de 60, quando os ingleses pretenderam ingressar na então CEE e os franceses se opuseram. Nada de novo, portanto. Nenhum tipo de preocupação e sim, algum alívio, com a posição inglesa. Mas atenção, porque os ingleses são os únicos que levam muito a sério a sua História e a sua economia e estão melhor sem euro, do que com a pata alemã em cima). 


Depois, bem, depois pretender inscrever na Cosntituição Portuguesa um limite ao défice, significa cortar cerce qualquer possibilidade de responder com dívida pública, a problemas de assimetria económica e da correspondente necessidade de fazer crescer a economia. mais uma vez afirmo: é da responsabilidade do Estado a criação de condições para aumentar o emprego. Se um Estado que não tem moeda, aceita não ter política orçamental e, last but not least, ainda se fustiga obrigando-se a inserir na Lei Fundamental, um limite à capacidade de endividamento, então esse Estado não é soberano: é um Estado    liliputiano, onde só se sobreviverá, por via de um retrocesso económico de 90 anos.

4.12.11

A economia fixada no exterior

[....um governo económico para a Europa.]

Sem moeda, sem política orçamental, sem economia definida no espaço nacional, nas próximas eleições a questão que se coloca é a de saber em que é que se vai votar, e não mais em quem votar. 
Sem nenhuma das razões apontadas incialmente, não há qualquer razão plausível e palpável para que se vote em qualquer um dos partidos do espectro político nacional. O voto pode ser branco ou nulo, mas não pode ser político, porque a política não existirá. Esta situação consagra a mais absoluta ausência de democracia.
Defender a dependência orçamental e económica do exterior, depois de ter capitulado da moeda, equivale à morte do Estado, da soberania nacional, da própria existência da actividade política. 
É, no final, a ausência de liberdade que impera, a escravatura regional por ausencia de solidariedade, a demonstração cabal da falta de capacidades e de ideias para conduzir o País, o descohecimento de ideais.
Começa a fazer todo o sentido, que se avente a descaracterização do feriado do 1º de Dezembro.