"A liberdade religiosa compreende o direito de ter ou não ter religião e, tendo religião, o direito de ver respeitados os símbolos fundamentais da religião que se professa", sublinha o ministro. “Para os muçulmanos, um dos principais símbolos é a figura do Profeta Maomé".
Freitas do Amaral expressou assim a opinião do executivo sobre a polémica dos cartoons.
A afirmação é válida para os muçulmanos, como o é para os católicos. Existem contudo diferenças que residem, essencialmente, no petróleo e na atitude passiva e de agachamento da cultura ocidental perante o mundo muçulmano.
De acordo com o políticamente correcto, a hipocrisia subjacente à atitude de criticar desenhos caricaturando símbolos religiosos esgota-se em Maomé. Quando o Papa JP II foi caricaturado com um preservativo no nariz não veio qualquer mal ao mundo. No entanto o Papa é o vigário de Cristo; caricaturando o Papa caricatura-se Cristo. Onde reside, nessa altura, o direito dos católicos verem os seus símbolos fundamentais respeitados, à luz da afirmação proferida e do conjunto de atitudes, um pouco por todo o lado, que emergem em críticas ao suposto despudor dos desenhos?
Desde quando é crível aceitar a impossibilidade de glosar um tema, numa sociedade aberta e livre, ainda mais quando o tema em crítica é actual e utiliza simbolismos fácilmente perceptíveis por todos?
Da mesma forma que se aceita que se critique a posição da igreja católica a propósito da utilização de contraceptivos, utilizando para o efeito imagens marcantes e bem direccionadas para a mensagem que se pretende passar, independentemente de se discordar da utilização da imagem do Papa para o efeito. Pode criticar-se a posição, ser a favor ou contra, mas não se pode querer coertar o direito de insurgimento, através de palavras ou imagens, daqueles que discordam de uma determinada posição da igreja.
As regras têm de ser iguais em todas as circunstâncias e, em nenhuma delas, se pode confundir a parte com o todo. A posição assumida pelos cartonistas não passa disso mesmo: uma posição assumida por um grupo restrito de pessoas, que através de um conjunto de imagens pretendem criar um impacto crítico forte e visível na sociedade. A liberdade de publicação é isso mesmo: liberdade. Concordar ou discordar compete-nos a nós, dentro do espírito crítico que desenvolvemos consoante o balizamento da liberdade de que gozamos ou usufruímos. Daí, também, a nossa não reacção a provocações de grupos mais ou menos minoritários ou a contestacões levadas a cabo por grupos de pressão que coloquem em causa valores que consideramos como nossos. Porque aprendemos o sentido da liberdade e sabemos destrinçar o essencial do acessório.
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