19.1.06

Estaremos tão perto de uma vitória à primeira, como da necessidade de uma segunda volta

É definitivo. O sentimento sobre as eleições presidenciais é generalizado, transversal na sociedade portuguesa e não limitado a cliques intelectuais ou sofisticadas: nenhum dos candidatos é julgado conveniente, portador de qualidades que justifiquem a sua nomeação como futuro Presidente da República. Assim, os que votam fá-lo-ão pelo princípio do mal menor ou do menos mau. No fim, seja qual fôr o resultado, muitos sentir-se-ão insatisfeitos, mesmo ganhando o "seu" candidato.
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Mas que resultados esperar ao final da tarde do próximo Domingo? Sinceramente a resposta é quase impossível de dar, mesmo que alicerçada em sondagens, porque estas tratam estatísticamente as respostas apuradas e partem, obrigatóriamente, de determinados pressupostos, como por exemplo o eleitorado base de cada partido, a massa flutuante de eleitores que umas vezes dá a vitória ao PS e outras ao PSD e ainda os indecisos. E depois repartem estes números de acorodo com os dados coligidos e as experiências passadas.
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Só que estas eleições são diferentes, atípicas. Não é relevante se a esquerda ganha ou se a direita é a mais votada. Essa dicotomia não existe nestas eleições e tende a desaparecer totalmente nesta democracia à portuguesa. Os eleitores estão cansados dos partidos, dos políticos e desejam, diria mesmo que anseiam, uma mudança na vida económica e social do País e que se sintam ventos de mudança claros, de que o País tem soluções para progredir e, ainda mais importante, que se torna um País governável, coisa que não acontece desde 1980.
Tem sido um erro situar os candidatos num plano ideológico de esquerda e direita. Por um lado os candidatos excluem-se da hipótese de serem um presidente para todos os portugueses, por outro transformam estas eleições em eleições partidárias e essa perspectiva não tem cabimento nas actuais eleições. Cavaco tem estado bem nessa perspectiva desde o início; Alegre começou a perceber o fenómeno há pouco tempo, retirando do discurso político, gradualmente, as alusões constantes à esquerda e demarcando-se do PS, ao mesmo tempo que pretende, aplicando um enorme esforço discursivo, a colagem de Cavaco ao PSD e CDS.
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Por isso se torna exercício penoso dizer onde acaba o eleitorado de um candidato e começa o de outro. Mesmo Cavaco Silva tem essa dificuldade, porque nem todo o eleitorado PSD/CDS vota Cavaco e, provávelmente, algum eleitorado que votou PS nas legislativas irá votar Cavaco agora.
Estará Cavaco folgado? Não! Cavaco está à justa. Se ganhar à primeira volta será por poucos.
E se fôr empurrado para uma segunda volta perde as eleições? Igualmente não é certo, pois seja Soares ou Alegre o oponente, por uma razão ou outra podem não conseguir congregar todos os votos do eleitorado dito de esquerda, nem que seja por guerrilhas partidárias ou ódios intestinos.
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É então impossível afirmar com segurança qual o resultado expectável para Domingo.
Mas como o comentário e epensamento político implica riscos, correrei os meus ao colocar a hipótese de Cavaco Silva não ganhar à primeira. Vai-lhe fugir eleitorado natural e tem muitos candidatos à sua esquerda.
Passando à segunda volta vai ter por companhia Alegre, que paradoxalmente vai capitalizar alguns dos votos naturais de Cavaco. E depois, provávelmente, ganha as eleições na segunda volta.
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Entretanto o PS, em seis meses, termina o consulado da família Soares no partido. O filho João foi enterrado políticamente em Sintra, a nível local - não tinha dimensão de estadista, não mereceu honrarias de estado - o pai Mário vai ser enterrado a nível nacional - sempre foi um (péssimo) primeiro-ministro e Presidente da República - justificando a dimensão do enterro político pela dimensão das aleivosias políticas que todos testemunhámos, pelo menos os que não tendo memória curta e sentindo-se portugueses analisam os acontecimentos políticos à luz dos interesses nacionais.

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