30.1.06

Debater sem nexo...

No Prós e Contras de hoje vai ser debatida a questão do estado-previdência, da sua sustentabilidade e perspectivas futuras.
Foi neste mesmo programa que há umas semanas atrás o Sr. Ministro das Finanças, despudoradamente, afirmou que a curto prazo o sistema de Segurança Social estará falido, sem capacidade de pagar pensões de reforma entre outras coisas menores perante aquela dramática perspectiva.
Pergunto: porque razão entre tantos blogues, jornais e comentários políticos não li, nem ouvi, uma única declaração de surpresa e pasmo perante a gravidade de tal afirmação ser feita assim, en passant, num qualquer programa de televisão, pelo próprio Ministro das Finanças, como se o tema pudesse ser tratado em primeira-mão pela boca de um ministro, como se se tratasse de uma conversa de café e o tema fosse possível de ser tratado de forma sloppy.
E eu que leio tantos textos, o mais das vezes carregados de sofismas, orientadores e nada esclarecedores.

O sistema de segurança social vigente em toda a civilização ocidental assenta na confiança: descontamos hoje, na perspectiva de que amanhã alguém desconte para nós, única forma possível de termos garantida a reforma futura, prometida pelos descontos de hoje. Colocado o sistema em causa, coloca-se em causa a segurança, assusta-se o contribuinte e o sistema, ele próprio, vê derreterem-se as bases sob as quais assenta.
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E são estas questões que são discutidas assim, em directo na TV. Se o sistema está caduco e falido (não interessa se sabemos que está ou não), tal situação implica uma discussão ao nível do executivo e tão só a esse nível, seguindo-se a inevitável comunicação formal ao País, imersa numa enorme carga emocional, quer política quer social , implicando essa assumpção a apresentação de soluções a implementar de imediato, sob pena do sistema atingir o prazo de validade e cheirar a podre.

Sem esta postura, credível, séria e verdadeiramente institucional, o contribuinte de hoje é apanhado pelas notícias em debates televisivos e pensará, cheio de razão: eu desconto hoje, mas para que o faço, se daqui a 10-15 anos o sistema não tem como me ajudar, faltando ao compromisso assumido de gerar receitas futuras que permitam cumprir para comigo as suas obrigações, como hoje cumpre perante aqueles que beneficiam dos valores que mês após mês, ano após ano, através de descontos obrigatórios nos sucessivos vencimentos que aufiro, me são retirados?
Perante esta questão e quanto mais certa ela se for tornando e formando na mente do contribuinte, acrescidas serão as razões para fugir às contribuições para com a segurança social, porquanto não existirá uma base moral sustentável de exigência de cobrança por parte do estado-providência de semelhantes contribuições.
Este tipo de discussões públicas não servem rigorosamente para nada, nem sequer para elucidar. Mas servem e muito para assustar e acelerar a morte do estado-previdência!

1 comentário:

Antonio stein disse...

Numa sociedade culta e consciente, admita que o assunto possa ser debatido publicamente.
Aliás, diria mais. Admito com grande convicção que um tema desta natureza a sociedade deva intervir para a sua solução e a referendar soluções credíveis a apresentar pelos seus executivos e parlamentos.
Infelizmente este tema em Portugal tem sido abordado sempre em cima do joelho. Uns dizem, outros desdizem. Basta recuar duas semanas para perceber quanto confusa anda esta gente da governação!
Sabia-se que mais tarde ou mais cedo, viríamos a ser confrontados com a Débil situação do Sistema de Segurança Nacional com a gravidade de hoje.
A sua doença era conhecida, só que os médicos eram todos do foro psiquiátrico, quando o seu problema era do foro gastrointestinal.
Estou de Acordo com o Autor deste texto, em todo o seu conteúdo!
Os últimos três parágrafos, são bem claros, quanto à inoportunidade deste debate.

Sem dúvida que a matéria é grave e há que tomar medidas urgentes, mas dentro de portas!
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Um Abraço