22.9.05

QUESTÕES DE BERÇO

José Pacheco Pereira defende hoje no Público, em crónica bem escrita e arquitectada como é seu timbre, que o ênfase da escolha entre Soares e Cavaco, nas Presidenciais, não pode ser colocada ao nível da sofisticação cultural e social dos candidatos. Reconhece que nesse campo Soares leva enorme vantagem, pelas origens, pelo berço, mas que tal reconhecimento ou intuição desse facto, por parte dos eleitores, não deverá ser condicionador da escolha. Concordamos igualmente que não, que as oportunidades devam ser iguais independentemente das origens. Já o escrevemos, acrescentando que a igualização só é conseguida através de um enorme esforço por parte de quem sai em desigualdade social. Mas é possível!
Não o cremos que tenha sido conseguido por parte de Aníbal Cavaco Silva, que em condições de igualdade social quando comparado com Soares, não teria certamente baptizado de Mariani uma vivenda de que era proprietário em Montechoro.

Como é igualmente verdade que quando ouvimos Marques Mendes, líder da principal força política na oposição, de quem se espera competência, rigor e cultura, dirigir-se uma vez a Judite de Sousa, em princípio de frase por, "Você sabe...."; e numa segunda oportunidade ( e aqui acabou-se-me a paciência para o ouvir) lhe diga - "Ainda bem que me colocou essa questão Ó Judite!", ficamos imediatamente elucidados quanto à fluência, cultura e domínio da nossa lingua, bem como em relação ao meio onde viveu, cresceu, se inseríu e frequenta.
O Ó, como sabemos é desnecessário e baixo, bem como o Você demasiado popularucho e abrasileirado.
Mas Marques Mendes também padece dos mesmos tiques que Cavaco tendo, além desta, outra característica comum: são de origem humilde e não se impuseram uma disciplina de aprendizagem férrea.
Não ouvi o final da entrevista, como já referi, mas se Judite de Sousa acabasse agradecendo a presença de Marques Mendes dizendo-lhe: "Agradeço a sua presença nesta Grande Entrevista Sr. Luís,", creio que Marques Mendes nem notaria e acharia perfeitamente normal o tratamento.
Por isso digo: faz diferença o meio onde se nasce e cresce, a aprendizagem percebida, o esforço pessoal na evolução constante, tendo como modelo o melhor dos outros, descobrindo o melhor de nós próprios.
p.s. nunca votei Soares e não vou começar agora.

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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