Voltamos então à questão das ideias: sem moral as ideias são perigosas, sejam estas quais forem!
Há um ano e meio o PS, na oposição, atacava fortemente o governo PSD em matéria de prevenção de fogos. Há um ano, o PS pretendia assar o governo nas chamas que consumiam Portugal. Em Maio deste ano o PS, já governo, anunciava com pompa a criação de um gabinete de prevenção e combate a incêndios. Meses depois, com o País quase por inteiro ardido, o PS vem anunciar a decisão de comprar em 2006 meios eficazes de combate aos incêndios - leia-se aviões capazes de transportar uns milhares largos de água de cada vez.
O Presidente da República afirmava, pouco tempo antes, que teriam de ser tomadas acções correctivas capazes de dotar o País dos meios necessários ao combate a incêndios por se encontrar o País perto do limite do sustentável. Perto do limite? O Sr. Presidente deveria fazer estas afirmações no local dos incêndios, perante assistências compostas por gente afectada pelas chamas, que tivessem perdido os seus haveres ou mesmo que tivessem sofrido apenas enormes sustos, para verificar da sustentabilidade da sua retórica. Ah, pois, fazem-me sinal que seria necessário que os presentes soubessem escutar e interpretar as palavras correctamente e não estivessem imbuídos, únicamente, da enorme vontade de aplaudir toda e qualquer asneira verbalizada pela ilustre figura do Presidente, pelo respeito que esta inspira mais do que pela personagem que desempenha no momento aquelas funções. (Será que este respeito ainda vem do tempo da outra Senhora? Se não vier, então as palmas são mesmo por falta de estudos, como diria o outro). Porque será o PR tão condescendente com o governo socialista? Resposta: os PR´s deixaram de se preocupar com essa utópica ideia de terem de parecer presidentes de todos os portugueses. Melhor assim, ficam clarificados os lados do campo e acabam as hipocrisias. Os futuros Presidentes sê-lo-ão dos respectivos partidos e seus militantes e simpatizantes e nada mais do que isso, pelo que me é possível afirmar agora convictamente e sem rebuço de espécie alguma que nunca em trinta anos de partidocracia tive um Presidente que considerasse meu.
De qualquer forma pergunto-me: onde pára a oposição? Nem uma palavra se ouve a Marques Mendes ou qualquer outro destacado elemento do PSD.
Levaram tanta pancada e agora nada ? Agora que podiam falar, cheios de razão, ficam calados? Estranho?, nem por isso. Os partidos, todos sem excepção, estão no limiar da credibilidade e com eles toda a partidocracia que cresceu e envolve a República. Tal como na Monarquia Constitucional e na 1ª República, a actual situação cheira a podre e ainda mais a esturro e não só por incidência directa do flagelo das chamas. Os partidos protegem-se na esperança de continuarem a aproveitar da belíssima situação de que gozam, distribuindo tachos e favores, partilhando os cargos e bens materiais sem preocupações com cores e programas políticos. Atingirem-se uns aos outros agora, num momento de enorme fraqueza seria ainda mais suicidário, pelo que a alternativa reside no silêncio formal e polítcamente assumido. O País definha, os despojos do moribundo são cada vez menos, mas enquanto se tenta uma inclusão no espaço ibérico como parente pobre de Espanha, vai-se engolindo ávidamente o pouco que sobra. Sim, porque não se pense que é a UE a salvaguarda de uma modificação política no País. Caso acontecesse a UE ainda nos agradecia o pretexto para mostrar claramente e sem equívocos qual a porta de saída.
O El País deu à estampa na passada segunda-feira um enorme artigo onde atacava Portugal, a sua política, os políticos, os últimos trinta anos e ainda o actual governo de forma virulenta. Todos sabemos que os espanhóis adoram dizer mal de nós. Chateia mas passa. O que custa verdadeiramente não é o ataque, a que nos habituámos ao longo dos anos: o que verdadeiramente custa é ser tudo verdade e isso não chateia, dói e, ainda por cima, não passa!
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