22.7.05

SANTOS E PECADORES, TODOS DE PAU CARUNCHOSO

De um modo bem tradicional, florescente de há muitos anos nos países terceiro-mundistas ricos em recursos naturais, a corrupção apresenta características comuns: os dirigentes políticos de topo tomam as grandes decisões baseados em enormes gratificações. É assim, simples e proveitoso. Basta identificar quem manda e dar lugar aos mecanismos corruptores.

Nos países industrializados a coisa não funciona bem assim, até porque existe um sentimento generalizado de combate à corrupção, que não é, contudo, uma expressão comportamental moderna de excepção mas uma forma corrente e comum de remuneração (já o escrevi anteriormente) e bastará atentar nos brasileiros e para a sua capacidade de aligeirar, pela língua, situações gravosas, para que se perceba todo o alcance da expressão "mensalão".

Assim, havendo uma vontade expressa de lutar contra a corrupção mas continuando esta a existir, só se poderá tirar uma ilação do facto: as estruturas de decisão tornam esta luta e controle cada vez mais difícil, nas sociedades industrializadas.

Os actores que participam nas decisões são vários, sendo igualmente variados os objectivos que potenciam o aparecimento dos agentes corruptores. Cada um dos intervenientes adopta uma parte da decisão, aplicando em simultâneo inflexões no processo sobre matérias que extravasam as suas competencias. Porventura poderão classificar-se como decisões as próprias inflexões referidas. Perante uma extensa informação, procurando satisfazer variados interesses, bastas vezes contraditórios, o dirigente deixa de ser um agente zelador do bem comum para assumir a faceta de facilitador social do jogo de interesses dos grupos de pressão e, em simultâneo, zelar pelos seus próprios interesses, meramente pessoais e egoistas. Num processo desregrado e desregulado de tomada de decisão, a margem de opções possiveis sai muito reduzida, acabando quase inevitávelmente na política do facto consumado.

Vem o intróito a propósito de Campos e Cunha e de Mario Lino.

Comecemos por uma primeira constatação: nem um nem outro são santos. Ou seja, não há heróis e vilões nesta história. Existe, sim, um padrão de actuação divergente e uma leitura diferente do que se entende por interesses nacionais e pessoais.

Para Campos e Cunha uma despesa no tão propalado aeroporto da OTA, até 2009, de 650 milhões de euros só em estudos, era indiciadora de que a obra não se iria iniciar nesta legislatura - in DN de 20 de Julho: " ...o facto de até 2009 estar previsto um investimento de apenas 650 milhões de euros na OTA implica claramente que, para já, se vai avançar somente com a elaboração de estudos e não com o projecto em concreto."
Estudos de 650 milhões de euros ( ou aéreos, como um grande amigo gosta de lhes chamar, não pela relação directa com aeroportos mas pela facilidade com que voam de uns bolsos para os outros) requerem, no mínimo, tratamento de excelência. 10% disto dá.......
Para outros, investimentos de 650 milhões de aéreos parecem pouca coisa e, o que importa mesmo, é garantir as adjudicações de investimentos cujos estudos preliminares- serão iniciais? quantos se terão já realizado? - custam, logo à partida aquele montante. Ora 10% dum investimento deste porte dá...

Talvez que através de raciocínios esquematizados, como o anterior, se consiga perceber melhor o porquê das situações e das desavenças, bem como a noção de grandeza das coisas que os decisores políticos têm.

Pelos vistos 650 milhões de aéreos não merecia o esforço e é preciso avançar decisivamente para investimentos muito superiores. Ou será que uma vez mais ficaremos com os estudos, não havendo intenção alguma de avançar com as obras, mas tão sómente justificar aquele gasto?
Ora 10% de 650 milhões de euros sempre dá...

E desenganem-se os mal-formados que estes 10% mencionados nada têm a ver com possíveis luvas, pagamentos, corrupções várias. As contas só pretendem determinar qual o valor inicial contratualizado para o início dos trabalhos, na suposição de que as empresas envolvidas exigirão um sinal de 10% à cabeça......hehehe....

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