27.11.12

O Euro que já era

Portugal está na Zona Euro (ZE).

Significa este facto, que Portugal faz parte de um núcleo de países que adoptou uma única denominação para as suas moedas.

Mas significará que em Portugal circula a mesma moeda que na Alemanha?
À priori tudo indica que sim, porque a designação das moedas é a mesma. Estamos habituados a reconhecer as moedas pela sua designação; assim faz sentido que se pense tratar da mesma moeda. Mas será?

Vejamos: (1) a Alemanha paga, neste preciso momento, uma taxa de juro nos mercados financeiros, para financiar a sua economia, mais baixa que a que Portugal paga; (2) essa taxa, por ser baixa, implica que as yelds das bonds alemãs são baixas (%), o que implica que há uma valorização do valor par dessas bonds; (3) a atitude dos mercados perante as bonds alemãs é de esperar pela maturidade (soi-disant) e não a da especulação, corolário do que foi escrito anteriormente; (4) Esta atitude dos agentes financeiros implica confiança na economia alemã, o mesmo é dizer, o reflexo da prestação económica é positiva nos instrumentos financeiros, moeda incluída.

E Portugal?

Portugal tem: (1) Difícil acesso aos mercados financeiros internacionais; (2) paga uma taxa de juro sobre os financiamentos externos insustentável, quando comparada com a tx de crescimento do PIB (decréscimo nos últimos dois anos e ss); (2) a tx de juro paga, por ser alta, acarreta yelds altas sobre as emissões de obrigações nacionais; (3) Portugal está sujeito a especulação por parte dos mercados - pressão sobre o valor facial das suas obrigações - resultante do descrédito sobre a prestação económica nacoanl; (4) A atitude dos agentes financeiros demonstra a desconfiança que passa sobre a condução económica do país.

Parece então claro que: (a) a economia continua a ser a garante da avaliação do desempenho dos países; (b) a moeda e o seu valor é uma resultante de (a); (c) sendo a tx de juro sobre os capitais externos emprestados, substancialmente superior em Portugal que na Alemanha, torna-se claro que a moeda não é encarada da mesma maneira, ou seja; (d) o euro português não é o mesmo que o euro alemão.

Reflexo directo da economia, a moeda portuguesa afastou-se da alemã. O euro não vale o mesmo, caso contrário o comportamento dos agentes económicos seria idêntico num caso e noutro, com relação às economias mencionadas.

Ressalta ainda uma outra falácia política:não há viralidade na ZE. Acaso houvesse, a má prestação económica, á vez, de Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e também frança, teria atingido de igual forma todos os países da ZE, tendo estes de pagar nos mercados financeiros taxas de juro idênticas; por outras palavras o dinheiro seria igualmente caro ou barato para todos. Ora não é este o caso.

Para Portugal existe uma tx de juro alta, diferente da espanhola, melhor que a grega e muito pior que a alemã. O mesmo é dizer, é sobre a prestação económica que incide a avaliação, repercutindo-se esta na avaliação do risco dos países.

Ainda de outra forma e por palavras mais sensatas: não existe um euro enquanto moeda. Existem muitos euros, todos diferentes e que por mero acaso, hoje têm a mesma denominação.

mas em Portugal já não  é o euro que circula. Talvez seja a piastra portuguesa, conforme existe a piastra grega e a irlandesa, e a espanhola, e a italiana, todas diferentes mas tão distantes do euro alemão.

Dizer-se que se corre o risco de deixar o euro, é o mesmo que afirmar que corremos o risco de perder as províncias ultramarinas.


11.5.12

Questões de números

A notícia foi avançada ontem: as exportações portuguesas atingiram um recorde histórico e, em simultâneo, as importações caíram.

Dito assim, com números à mistura, até parece coisa boa. Mas consigo imaginar, sem dificuldade, os muitos portugueses que seguiam o noticiário das oito da noite, perguntar-se porque razão a sua pobreza aumenta, bem como a dos que conhecem, se os números pretendem mostrar uma economia diferente, para melhor.
Será que existem duas economias em Portugal? Será esta a famosa economia paralela? Não e não.
Só há uma economia e, a outra, é mesmo a que foge ao Balanço Fiscal do Estado.

Os números apresentados em si mesmos nada significam, porque:

(1) Não foi feita qualquer menção à produtividade, ou por outras palavras, não sabemos se a produtividade cresceu;
(2) Não foi indicado qualquer valor para o consumo das famílias;
(3) Não se mencionaram margens de comercialização nos produtos agora exportados.

E estes eram os indicadores mais simples de fornecer.

Quer isto dizer que, perante uma economia recessiva, uma desvalorização económica clara, um desemprego crescente, o aumento acelerado da miséria e a falência sucessiva de empresas, a leitura de tais indicadores acaba por ser redundante. 
As exportações aumentam fruto da falta de poder de compra dos portugueses, não por um aumento directo da produtividade mas por necessidade de escoamento dos produtos.
Se pensarmos que o nosso principal parceiro comercial é Espanha, lê-se claramente uma baixa de preços, significando uma diminuição da margem de comercialização e, muito provavelmente, também uma diminuição quantitativa na produção (pela redução do mercado nacional não ser compensada com a procura externa). Menos receitas com menos produção significa mão-de-obra e hora/máquina excessivas. Os primeiros sofrem primeiro. 

Também por esta via o Balanço Fiscal se ressente; menos IRC, menor receita em sede de IVA e, no futuro próximo, menos IRS nos cofres do Estado.
Não nos esqueçamos que se por cá pedimos para comprar português, os outros fazem o mesmo. Por vezes pensamos que estamos sozinhos nas soluções.

As famílias portuguesas estão a consumir menos. Significa que está a aumentar a poupança? Não, só de forma residual. Porque aquilo que não se compra já faz parte do cabaz de bens essenciais e bens de consumo primários. Já não falamos de luxo, de caprichos. Falamos de necessidades claras, quer alimentares numa face, quer de índole social, de bem-estar mental e emocional na outra face.

Assim, as boas notícias escondem más notícias: economia esfrangalhada, vidas ameaçadas, toda uma sociedade afectada psicológica e mentalmente. 
Se as notícias fossem boas a história seria outra, nas restantes amostragens do comportamento económico nacional. 
Porque em economia tudo é causa e efeito.